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FIA CINEFRONT: "Será um grande festival educativo por meio do cinema", diz Evandro Medeiros

O Coordenador de Cultura da Diretoria de Ação Intercultural - PROEX e professor da  Faculdade de Educação do Campo, Evandro Medeiros, 41 anos, idealizador do I Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira, o FIA CINEFRONT,  explica os objetivos do evento. "Será um grande festival educativo por meio do cinema, eis a arte da coisa."

  • Publicado: Sábado, 07 de Março de 2015, 12h25
  • Última atualização em Quinta, 04 de Agosto de 2016, 11h59

O I FIA CINEFRONT será promovido pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, no período de  13 a 18 de abril próximo, nas cidades de Marabá, Eldorado dos Carajás e Rondon do Pará, onde são esperados um público de duas mil pessoas. Veja a entrevista:

Assessoria de Comunicação (ASCOM). De onde ou como surgiu a ideia do Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira, o FIA CINEFRONT?
Evandro Medeiros - Além de professor trabalho como cineasta na produção de filmes documentários, com mais de uma dezena de trabalhos já realizados na região, sempre focando os conflitos e contradições que envolvem a história recente, a luta pela terra e as contradições provocadas pelo modo como o sudeste do Pará foi "ocupado" desde a Ditadura Militar pelos empreendimentos da mineração e agronegócio. Sobre essas temáticas destaco alguns filmes que produzi, como a Guerrilha do Araguaia, no filme "Araguaia Campo Sagrado - PREMIO PROEX UFPA/2010/2011", "Mulheres, Mães e Viúvas da Terra - MINC/2009", "Dezinho, vida, sonho e luta - CPT/2006" e "Ubá, um massacre anunciado- SDDH/2006".
Mas antes mesmo das experiências com produção cinematográfica, eu já havia começado a realizar sessões de exibição e debates sobre filmes no campus universitário, articuladas as atividades do grupo de arte-educação coordenado pelo Professor Alixa Filho. Estas atividades foram a base do Projeto Subvercine Cabanagem, realizado em parceria com movimentos sociais e que foi contemplado pelo programa "Cine Mais Cultura" do Governo Federal, recebendo equipamentos e acervo filmico para ampliar e consolidar as sessões de cinema na universidade, gratuitas e abertas a comunidade. Daí, já se foram 11 anos entre idas e vindas das sessões de cinema por nós promovidas no campus e, atualmente frente a coordenação de cultura da Proex, surgiu a oportunidade de realizarmos um festival como este, já sonhado também faz tempos.

ASCOM -  Quais os critérios para as escolhas das cidades de Marabá, Rondon do Pará e Eldorado dos Carajás?

Medeiros - A escolha da cidades se deu pelo seguinte: Marabá, porque é nossa primeira edição do festival e aqui é a sede da universidade, onde está localizado um espaço histórico do cinema - o Cine Marrocos -, concentra produtores e artistas na região e temos a Secretaria Municipal de Cultura como parceira; Rondon, nosso campus fora da sede mais próximo e palco de conflitos agrários sérios, com assassinato de trabalhadores rurais e lideranças sindicais, lugar importante para cumprirmos uma tarefa político-pedagógica com cinema; e Eldorado dos Carajás portersido cenário do massacre de 19 trabalhadores ruais em abril de 1996, no mesmo período em que acontece o festival, então importante estarmos lá, pois o festival tem essa finalidade "colaborar com a memória das lutas sociais e denunciar todas as formas de violência contra a população de regiões consideradas periféricas, a população pobre". Em Eldorado dos Carajás as sessões de cinema acontecerão no "Acampamento da Juventude Sem-Terra", na curva do S, no lugar onde aconteceu o massacre e onde está instalado o monumento das castanheiras mortas.


ASCOM - Como se deu o processo para escolha dos filmes a serem exibidos e dos painéis com os nomes dos debatedores?
Medeiros - Os filmes foram escolhidos a partir do dialogo com Felipe Milanez, cineasta e pesquisador, curador do festival. A decisão primeira foi da obra e diretor a ser homenageada, sendo "A Década da Destruição" a obra escolhida e Adrian Cowell e Vicente Rios os homenageados por terem sido documentaristas que primeiro fizeram um tipo de "cinema no front" no sudeste do Pará, com filmes que se constituíram num rico material para entender a realidade e nos inspira a produzir novas obras sobre essa região. As demais obras são de cineastas locais e nacionais que também focam a realidade da região atualmente, colocando em debate os mesmos temas da obra "A década da Destruição". Os debatedores serão professores da universidade e os autores das obras filmicas.

ASCOM - Que público espera atingir?
Medeiros - Bem, considerando as projeções em sessões no Cine Marrocos, praça pública e a semana inteira nas escolas e acampamento sem-terra, pelo menos 2 mil pessoas assistirão as sessões.

ASCOM - Quais as contribuições que o evento esperar dar a sociedade?
Medeiros - O evento tem um objetivo político-pedagógico, educar pela imagem e educar para a imagem cinedocumental. As pessoas não estão acostumadas a assistir filmes documentários, o festival vaiteressa contribuição, educar o olhar e gosto estético das pessoas para este tipo de obra. E mais que isso, o cinema cumprirá a tarefa política de colocar em debate a realidade de conflitos que permeia a vida das pessoas nessa região, trazendo temáticas sempre atuais como a luta pela terra, a violência contra trabalhadores, a violação dos direitos humanos, os impactos socioambientais de hidrelétricas e mineração, etc. Será um grande festival educativo por meio do cinema, eis a arte da coisa.

ASCOM -  A seleção de filmes privilegia questões atuais como a má distribuição da terra em perímetros urbanos e rurais no Sul e Sudeste do Pará. Qual a importância desse debate para a conscientização da sociedade e a tomada de posição dos poderes constituídos envolvidos?
Medeiros - O cinema tem um poder de motivar "comunidades de sentidos", muitas vezes a narrativa fílmica segue um tom de denuncia direta, mas noutras tem um apelo poético, usa imagens, falas e sonoridades como dispositivos artísticos que mobilizam as pessoas a pensarem sobre o que vivem, sem necessariamente lhes dizer o que devem pensar, apenas mobiliza artisticamente sensações e sentimentos que estimulam a empatia do expectador com a história narrada e daí lhe promove percepções sobre o mundo ao redor. Esse é o poder do cinema, estimular imaginações sobre a existência. E sendo cinema documental, nesta edição tematizando as tragédias sociais e ambientais que vivemos na região, por certo as imaginações estimuladas colocarão debate o papel do Estado e empresas no que tange aos empreendimentos capitalistas aqui existentes.

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