Unifesspa tem primeiro TCC defendido em língua indígena
Pela primeira vez, um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi defendido em língua indígena na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). O ineditismo parte do aluno do curso de licenciatura em Educação do Campo, Bep Punu Kayapó. A defesa do TCC foi realizada na tarde desta segunda-feira (26), na Unidade I do campus Marabá, e contou com a presença de dezenas de pessoas, inclusive parentes do aluno que vieram prestigiá-lo nesse momento tão importante.
O estudante trouxe o seu trabalho acadêmico intitulado: “Be Jakam Bet Djá Gu Me Arym Ba Arym Kaben o Ba Bit Noro Ket”, que traduzido significa “Se nós escrevemos a nossa língua a gente não se esquece”. Participaram da banca de avaliação, os professores Maria Cristina Macedo (Fecampo), Laércio Sena (IETU), Lucivaldo Silva (ILLA), e o professor especialista na língua mēbêngôkre, Eketi Kayapó.
Inicialmente, Bep Punu Kayapó teve o tempo regimental de 15 minutos para apresentação e defesa de seu trabalho. Na ocasião, ele relatou as dificuldades que teve ao longo do tempo em que se dedicou a escrita do TCC em sua língua materna. “Senti muita dificuldade para fazer esse trabalho, porque em nossa terra indígena somos mais estimulados à oralização do que a escrita e encontrei poucos materiais para embasar a escrita do meu trabalho. Foi exigido de mim muito esforço, mas eu consegui”, disse entusiasmado o aluno.
O trabalho procurou refletir sobre os letramentos dos povos Mēbêngôkre, a partir da observação nas escolas desse povo na Terra Indígena Mēbêngôkre Kayapó. O objetivo do aluno foi mostrar para o povo Mēbêngôkre a importância de se escrever na escola na própria língua. Segundo Bep Punu Kayapó, as informações que ele escreveu foram adquiridas nos estágios de observação/intervenção realizados durante a formação do curso. Nesses estágios, o aluno observou que o povo Mēbêngôkre fala muito bem a sua língua, mas poucos sabem escrever em mēbêngôkre. E concluiu que se o povo Mēbêngôkre aprender a escrever em sua língua materna poderá construir e escrever sua própria história.
“Pela primeira vez alguém da nossa família, da nossa aldeia, consegue ir tão longe nos estudos. Para nós é um orgulho muito grande testemunhar esse momento. Quero pedir ao meu sobrinho que continue estudando para mostrar aos outros da nossa terra indígena que é possível chegar lá, que é possível adquirir conhecimentos e vencer”, disse emocionado Eketi Kayapó, da Aldeia Indígena Kaprankrere, de Pau D’arco, sul do Pará.
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