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#ComCiência: Turismo e Círio em Marabá, uma relação possível?

  • Publicado: Terça, 29 de Outubro de 2024, 13h53
  • Última atualização em Terça, 29 de Outubro de 2024, 13h56
  • Acessos: 29

cirio 44 edicao 50 scaledSeguindo a tradição religiosa de Belém do Pará – capital do estado – Marabá comemora o Círio de Nazaré, no terceiro domingo de outubro, um domingo após o Círio de Belém, o mais tradicional do Brasil e uma das maiores manifestações religiosas do mundo.

Em Belém, o Círio de Nazaré já deixou, há muito tempo, de ser apenas uma festa religiosa, sendo, também, uma oportunidade para que pessoas de fora dessa cidade conheçam aquele fenômeno cultural. Essa característica é o atrativo turístico mais importante do estado do Pará.

Em Marabá, a festa católica é bem menor do que aquela que ocorre em Belém. Nesta última, cerca de 1,5 milhões de pessoas. Em Marabá, há uma estimativa de 300 mil pessoas, de acordo com a Diretoria da Festa, o que, segundo eles, a ideia é manter esse público para este ano. Em matéria veiculada recentemente na mídia regional, o bispo Dom Vital Corbellini afirmou que o Círio é uma festa de fé e amor. Porém, há de se perguntar: o Círio é uma festa de fé e de amor capaz de mobilizar o turismo no município tal como ocorre em Belém?

Os atrativos turísticos são capazes de mobilizar pessoas de diferentes lugares. Por serem atrativos, eles promovem o deslocamento de pessoas – turistas – a fim de que elas experimentem algo inovador em suas vidas, tudo isso com a possibilidade de haver uma troca de saberes, de conhecimento. A questão não é saber se uma pessoa de fora de Marabá se sente motivada a conhecer o Círio de Marabá, mas cabe saber se a festa religiosa é capaz de atrair muitas pessoas interessadas em experimentar o que, em Belém, já é tradicional.

Outra característica típica da atividade turística é a organização de serviços voltados a atender o turista: bares, restaurantes, agências de viagens, locação de veículos e, obviamente, hotéis e pousadas. Esse conjunto de atividades características do turismo costuma ser aquecido nas chamadas ‘altas temporadas’. É nesse momento que o comércio das cidades turísticas também se beneficia, visto que há um volume maior de pessoas, diferente do que ocorre em dias comuns. Os empresários – em geral – preparam-se para receber pessoas e prestar um atendimento de acordo com o volume atípico de pessoas.

Para que o desenvolvimento do turismo se dê a contento, é necessário haver um esforço coordenado de diversos segmentos da sociedade, sobretudo, partindo de governos (local, estadual e nacional). Por certo, ainda que nem tudo seja um mar de rosas, as decisões partem de uma organização coletiva entre os governantes (com seus secretários), sociedade civil organizada e o setor ligado ao empreendedorismo do turismo. Sim, os empresários: pequenos, médios e grandes devem ser corresponsáveis pelo sucesso do turismo nos lugares.

Ao retomarmos a comparação com o Círio de Nazaré de Belém, observamos que, na capital do estado, a festa religiosa possui diferentes frentes atuando para que esse fenômeno se mantenha como um dos maiores atrativos turísticos da Amazônia: prefeitura, governo do estado, empresários e sociedade civil em geral. De uma forma ou de outra (seja de um jeito mais popular ou elitizado), esses organismos miram a possibilidade de se beneficiarem do Círio, que, em se tratando do ato religioso em si, passa a ter uma conotação econômica. Ou seja, é a economia dando um outro sentido ao Círio, usando o turismo como instrumento.

No início desta coluna eu havia feito a pergunta se há uma relação possível entre o Círio de Nazaré e o turismo na cidade de Marabá. Todavia, fica difícil mensurar – em termos práticos – de que forma a atividade turística impacta Marabá se a prefeitura não dispõe de informações que atestam se a festividade católica consegue arregimentar um número suficiente de pessoas que se destinam a conhecer o Círio como um atrativo turístico. Não há números oficiais, nem há informações veiculadas pelo órgão de turismo do município que mostrem claramente que o Círio de Marabá é um fator decisivo na economia marabaense. Além disso, há de se considerar o crescente e expressivo número de não católicos residentes no município.

Por fim, ficamos apenas com a interpretação do representante religioso: o Círio é feito de “amor e fé”. Por enquanto, a relação de Marabá com o Círio de Nazaré fica no campo da religião e da cultura; para o turismo, não só de fé vive o homem...

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Artigo escrito pelo Prof. Dr. Hugo Rogério Hage Serra (ICH/Unifessspa)

Originalmente publicado na coluna #ComCiência, do jornal Correio de Carajás, edição nº 4255 - dias 12 a 14 de outubro de 2024.

Foto: Reprodução/Jordão Nunes

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