Pesquisadora premiada abre Conferência sobre História de índios e negros
A professora doutora Maria Regina Celestino de Almeida, da Universidade Federal Fluminense (UFF - RJ), premiada em 2001, com o Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa pelo conteúdo de sua pesquisa, posteriormente publicada no livro “Metamorfoses Indígenas - identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro”, em 2013, foi a responsável pela Conferência de abertura da II Semana de História da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). A conferência aconteceu ontem (19), no auditório da EMEF Professora Judith Gomes Leitão, localizado na Marabá Pioneira.
A professora Regina de Almeida falou, durante duas horas, sobre “O lugar de índios e negros na História do Brasil: desafios e possibilidades de pesquisa e ensino” para uma plateia composta de professores das redes federal, estadual e municipal, alunos de História, em sua maioria; e de Geografia e Pedagogia.
Regina de Almeida explicou o processo de invisibilidade pública por que passaram negros e indígenas ao longo da formação do Brasil como País. “Os negros e índios sempre foram sujeitos históricos que se ocuparam dos extratos sociais mais inferiores”, recordou a pesquisadora. Para ela, desde que a elite, no século XIX, buscava a formação de um povo brasileiro de pele branca, aconteceu um processo de invisibilidade dos povos tradicionais, os índios; e dos negros africanos, trazidos para o Brasil pelo tráfico negreiro, relegando sua influência, seus costumes, suas culturas e suas histórias, que precisam ser recuperadas pelos –novos- pesquisadores como parte do processo histórico de formação do povo brasileiro e de suas identidades.
A pesquisadora defendeu a necessidade de descontruir, desde o ensino básico, fundamental e médio, a forma como é ensinada a história do indígena e dos africanos. “Para a compreensão de ambos é fundamental que sejam estudados como sujeitos, categorias históricas, e desmontar as versões históricas dos portugueses e depois brasileiras, que permeiam o senso comum”. Segundo Regina de Almeida, essa visão do indígena e do negro, principalmente nos livros didáticos adotados em sala de aula no ensino fundamental e médio, é dotada “de ideias equivocadas, preconceituosas, racistas e discriminatórias”. Para ela, historiadores e antropólogos têm papel importante na disseminação de conhecimentos sobre o lugar que ocupam o índio e o indígena desde o século XVI e agora na história do Brasil, como categorias histórias e reafirmar a importância de ambas para a construção das relações interétnicas e dos processos de mestiçagem na formação do povo brasileiro.
Na manhã de ontem, foi realizada a mesa redonda "A história, o ensino e seus desafios", também no auditório da Judith Gomes Leitão, com as palestras dos professores Erinaldo Vicente Cavalcanti e Maria Clara S. C. Sampaio (FAHIST/Unifesspa) e da professora Regina Célia Correa Batista (SEMED/Marabá). Na tarde desta quinta-feira (20), o público conferiu a palestra da professora Vera Regina Rodrigues da Silva, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB), que abordou o tema "Nossas realidades; gênero, raça, e docência nas universidades federais do Norte e Nordeste do Brasil". A professora convidada também prestigiou a conferência de abertura.
O evento prossegue até amanhã (21), com a realização de mesas redondas, conferências, sarau, exposições fotográficas, grupos de trabalhos, palestras, minicursos e oficinas, envolvendo estudantes, professores da educação básica, pesquisadores do campo da História e de outras áreas do conhecimento. A programação completa está disponível no endereço:http://historiaunifesspa.wixsite.com/semanadehistoria. Unidade III, do Campus de Marabá, aconteceu o minicurso "Elaboração de trabalhos acadêmicos", ministrado pelo professor Magno Ricardo Silva de Carvalho. Participaram do minicurso alunos dos cursos de História, Geografia e Direito.
A II Semana de História é uma realização do Centro Acadêmico de História Dina Teixeira com a Faculdade de História, e apoio do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Relações Étnico-Raciais, Movimentos Sociais e Educação – N’UMBUNTU, Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação Tecnológica(PROPIT/Unifesspa), Instituto de Ciências Humanas - ICH, Grupo de Pesquisa iTemnpo, em parceira com a EMEF Professora Judith Gomes Leitão.
Perfil
Regina de Almeida é professora adjunta no Departamento de História da Universidade Federal Fluminense. Mestre em História pela Universidade Federal Fluminense, com a dissertação Os Vassalos d’El Rey nos Confins da Amazônia – A Colonização da Amazônia Ocidental –1750-1798 e Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas com a tese Os Índios Aldeados no Rio de JaneiroColonial –Novos Súditos Cristãos do Império Português.
Atualmente coordena o projeto de pesquisa “Índios e Mestiços no Rio de JaneiroOitocentista: mestiçagens e relações interetnicas”, que se propõe a dar continuidade à pesquisa desenvolvida no último triênio, com o objetivo geral de aprofundar a análise sobre as relações interétnicas e os processos de mestiçagem, estreitando o foco de investigação sobre agentes sociais definidos nos contextos históricos específicos de suas relações, de forma a compreender seus possíveis interesses e estratégias nas formas de interação política e social na sociedade do Rio de Janeirooitocentista. Seu livro “Metamorfoses Indígenas - identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro”, publicado em 2003, foi reeditado pela Fundação Getúlio Vargas, em 2013.
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