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Resultado de pesquisa antropológica da Unifesspa foi publicado no Centro de Estudos Interculturais do Porto

  • Publicado: Terça, 29 de Mai de 2018, 12h45
  • Última atualização em Terça, 29 de Mai de 2018, 12h47
  • Acessos: 2936

lendaUma pesquisa inovadora sobre o Círio de Nazaré, mais especificamente sobre a Festa das Filhas da Chiquita, realizada em outubro, em Belém do Pará, foi publicada na Europa, na Revista de Estudos Interculturais, de periodicidade anual, do Centro de Estudos Interculturais (CEI) do Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto, que disponibiliza publicação interdisciplinar, com artigos de autores de vários países, abrindo espaço para teorias e práticas interculturais, comunicação e business intercultural.

O estudo publicado pelo professor pesquisador da Unifesspa Heraldo Montarroyos - especialista no tema do Círio de Nazaré há mais de 30 anos, apresenta um novo olhar sobre a Festa da Chiquita, revelando que se trata de uma prática cultural fortemente conectada com a religiosidade nazarena.

Segundo Montarroyos, a Festa gay das Filhas da Chiquita Bacana é uma releitura inconsciente do mito português de Dom Fuas Roupinho, gravado no azulejo medieval de Nazaré, em Portugal, onde se fazem presentes o cenário do abismo no mar e personagens emblemáticos como o cavalo, o nobre, o demônio, o veado e Nossa Senhora.

Todos esses elementos, conforme mostra a pesquisa, são reencenados pelos brincantes da festa da Chiquita, de tal forma que mais parece uma festa do azulejo medieval à moda amazônica.

No desenvolvimento dessa pesquisa, Montarroyos organizou inicialmente um programa de pesquisa fenomenológico, embasado nas diversas obras do especialista em religião Mircea Eliade, anos 50, autor da famosa obra “Mito do eterno retorno”, entre outras de grande importância. Nessa perspectiva, adotou um modelo de análise que buscou mergulhar no inconsciente coletivo, refazendo as teses dos psicanalistas Young e Freud.

Essa visão programática utilizou metodologicamente o recurso da analogia, que possibilitou ligar a imagem mitológica do azulejo medieval do milagre de Dom Fuas Roupinho com as práticas culturais dos participantes da Festa da Chiquita.

O artigo faz uma etnografia da festa, mostrando que existem os principais elementos mitológicos do azulejo português medieval e que ganham um significado regional próprio, com a entrega dos troféus Veado de Ouro, Rainha do Círio e Botina do Círio.

Ao identificar a conexão desses elementos no imaginário da tradição nazarena, tanto em Portugal como na Amazônia, a pesquisa mostra que a Festa da Chiquita não é estranha ao evento religioso do Círio, servindo inclusive como espaço de reflexão existencialista entre os participantes, que foram classificados em duas categorias dicotômicas na pesquisa: veadeiros religiosos e não religiosos.

Foi descoberto empiricamente nesse estudo que dentro da Festa da Chiquita dois discursos estão em conflito, mas fazem parte da imagem autêntica do mito português onde dom Fuas Roupinho, o grande herói da formação do Estado português na Idade Média que lutou contra os árabes, aparece montado em seu cavalo branco na beira do abismo protegido por Nossa Senhora, perseguindo o veado que ele tentava caçar por diversão mas que estava a serviço do Satanás que nesse caso apenas queria acabar com a vida do nobre guerreiro. Portanto, a partir desse tema gerador, Montarroyos percebeu que os discursos dos chamados “veadeiros”, ou seguidores do veado, refletiram o ambiente psicológico existencialista referente ao limite entre a vida e a morte, o caos e a ordem, o consciente e o inconsciente. Momento inquietante na beira do abismo, com o desespero da possível queda no mar, em que o sujeito ainda pensa qual deveria ter sido o caminho a ser seguido e qual deveria ser o tamanho da sua fé no poder sagrado.

Essa pesquisa publicada em Portugal traz como contribuição a demonstração de que existe uma familiaridade da Festa da Chiquita não só com a tradição religiosa do Círio local, mas também com a sua matriz, que fica na Vila de Nazaré, Portugal.

O professor Montarroyos explicou que ao escrever sobre esse tema precisou ficar acima do bem e do mal, ou seja, não poderia discriminar, mas também não poderia exaltar a Festa da Chiquita sob o risco de perder a visão do todo, que nesse caso, Montarroyos considerou ser uma festa nem profana, nem sagrada, mas existencialista. Nesse sentido, foi preciso um grande esforço programático a fim de encontrar temas universais da Festa da Chiquita, muito além dos temas regionais, católicos e profanos. Chiquitas

O professor destacou ainda que os discursos empíricos selecionados apontaram um racha profundo não só entre a festa e a procissão, entre padres e brincantes, mas também entre os próprios veadeiros, que são a favor da religião e contra ela.

O resultado da pesquisa contribui trazendo um novo olhar que transcende as visões preconceituosas tanto do movimento LGBTS como dos que são adversários dessa manifestação popular que reúne mais de 40 mil participantes.

Na verdade, a pesquisa sugere que existe uma indissociabilidade entre essas duas visões de mundo, sagrada e profana, que são conectadas através da figura do Troféu Veado de Ouro, na festa da Chiquita.

O artigo completo do professor Montarroyos tem como tema: “Veado e veadeiros na procissão do Círio de Nazaré: O mito medieval português de Dom Fuas Roupinho reencenado inconscientemente na Festa gay da Chiquita”, e pode ser acessado na edição atual, no seguinte link: https://www.iscap.pt/cei/E-REI%20Site/Pages/6.htm.

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