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Curador do FIA CINEFRONT: "Os filmes vão ser vetores de reflexão e debate muito profundos e instigantes"

O jornalista e documentarista Felipe Milanez, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal, será o curador do I Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira, o FIA CINEFRONT. Milanez também exibe o filme por ele dirigido, "Toxic Amazonia".

  • Publicado: Segunda, 16 de Março de 2015, 10h03
  • Última atualização em Quinta, 04 de Agosto de 2016, 11h59
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O jornalista e documentarista Felipe Milanez é o curador do I Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira, o FIA CINEFRONT, promovido pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) por meio da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis, da Diretoria de Ação Cultural e a Coordenação de Cultura no período de 13 a 18 de abril próximo, nas cidades de Marabá, Eldorado dos Carajás e Rondon do Pará. Milanez também exibe o filme por ele dirigido, "Toxic Amazonia" que conta a história do casal de ambientalistas José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, que foram assassinados, em Nova Ipixuna, em maio de 2011. "O Sul e o Sudeste do Pará formam uma das regiões mais violentas do Brasil", classifica Milanez.
No I FIA CINEFRONT serão exibidos os filmes "Montanhas de Ouro", "Barrados e Condenados" e "Matando por Terra", de Adrian Cowell e Vicente Rios; "Ameaçados", da diretora Júlia Mariano (Osmose Filmes), "Terra para quem", de Camila Fialho e José Viana; "Gritos dos excluídos - Marabá", de Evandro Medeiros e Airton Pereira; "Minerando conflitos", de Thiago Cruz e "Cabelo Seco no encontro dos rios", de Joseline Trindade.
Com o I FIA CINEFRONT, Milanez espera "compartilhar esses grandes filmes que devem servir para inspirar as pessoas a contarem suas histórias".
Para o curador, "quem for assistir terá a chance de ver filmes duros, mas bonitos, profundos e bem feitos. Grandes documentários. Mas uma discussão sobre o lugar em que vivem". Para ele, o lugar do conflito não deve ser colocado de lado, escondido atrás do exótico e do distante, como muitas vezes assim foram tratados os conflitos no sul e no sudeste do Pará. Nesses filmes, é a partir da fronteira como centro da perspectiva que se discute a condição humana do desenvolvimento.
Sobre os cineastas Adrian Cowell e Vicente Rios, que serão homenageados no I FIA CINEFRONT, Milanez diz que os seus trabalhos seguem a linha dos clássicos documentários britânicos, "com ideia bem construída, um roteiro forte, muita pesquisa: essa é uma grande contribuição para se oferecer, pensar de forma abrangente na estrutura dos filmes e das histórias a serem contadas". Cowell será homenageado in memorian. Boojie Cowell, filha do cineasta inglês, ficou emocionada ao saber do festival e disse que os filmes serão vistos no local aonde eles mais importam. "Espero que fique plantada uma semente para que o Cinefront se torne uma referência e que sirva de incentivo para a produção local de documentários", argumenta Milanez.
                                                                                                                                    ***

Assessoria de Comunicação (ASCOM) - Quais são suas expectativas em relação ao I Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira, o FIA CINEFRONT?
Felipe Milanez - São muitas expectativas. Seŕa um grande desafio, uma experiência extraordinária. Esse é o primeiro festival, e é importante que se consolide e que a região se torne não um local de estudos de campo de pesquisadores externos sobre a violência e a fronteira, mas um centro de reflexão sobre a violência e a fronteira. Nesse sentido, também quero que seja cada vez menos o cenário dos filmes. É uma honra muito grande ser o curador, e um desafio temendo. Escolhi as obras que mais me influenciaram para compreender a região. Obras fundamentais, e espero que o público se identifique, de maneira crítica, e goste dos filmes. Adrian Cowell, o cineasta homenageado, falecido em 2011, certamente estaria muito feliz. A filha de Adrian, Boojie Cowell, ficou emocionada ao saber do festival e disse que os filmes serão vistos no local aonde eles mais importam. Espero que fique plantada uma semente para que o Cinefront se torne uma referência e que sirva de incentivo para a produção local de documentários.

ASCOM - Que contribuições pretende dar como curador, que tem o desafio de expor e fomentar a discussão sobre a produção audiovisual contemporânea relacionados ao cinema de fronteira na Amazônia?
Milanez- Como curador pretendo oferecer ao público da região o acesso a filmes, sobre a região, que são debatidos longe de lá, mas nunca mostrados no local. E não são mostrados por uma série de fatores, como problemas de distribuição, e também, da própria situação social. O Sul e o Sudeste do Pará formam uma das regiões mais violentas do Brasil. Quando Zé Cláudio e Maria foram assassinados, o Polígono da Violência era a área mais violenta, com maior índice de assassinatos. Filmes que denunciam essa situação precisam ser mostrados fora daí para provocar um debate sobre os efeitos de politicas e interesses econômicos que estão impactando a região. Mostrá-los localmente deve chocar menos as pessoas que estão acostumados a essa situação, quanto provocar uma reflexão na medida em que vão se ver como em um “espelho”: o outro falando dali. Esses filmes, como a série de Adrian Cowell e Vicente Rios, apresentados junto da rica produção local, eu espero, vão ser vetores de reflexão e debate muito profundos e instigantes. O outro lado da violência e destruição da região é a força da resistência e da alta politização. Pretendo, pois, contribuir levando trabalhos que devem ser vistos, e ainda não o foram, no local aonde foram filmados, e, principalmente, aprender com o público.

ASCOM - O evento também vai apresentar o filme "Toxic Amazonia", de sua autoria como jornalista e documentarista do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal. Qual é a mensagem do filme?
Milanez- O filme Toxic Amazonia é um trabalho de equipe, e todos que participaram se dedicaram imensamente: o outro diretor, Bernardo Loyola, o apresentador, Thomas, o talentoso câmera Marcelo Lacerda, o editor Paulo Padilha, os músicos Simone Giuliani e Guilherme Monteiro, e toda a equipe da Vice. Mas quem mais se dedicou, mesmo, foram as pessoas que são homenageadas e nunca viram o filme concluído porque foram assassinadas: Zé Cláudio e Maria. A mensagem do filme, que tentamos passar, é simplesmente ouvir eles. Agora, a mensagem que Zé Cláudio e Maria passam, essa é muito profunda: que é possível viver com a floresta, que é necessário lutar pelos bens comuns de toda a humanidade, e que a violência é um absurdo e uma covardia.

ASCOM - O I CINEFRONT terá filmes de vários autores. Quais os critérios de escolha?
Milanez - Mostramos alguns filmes fundamentais que nunca foram vistos na região, clássicos e que são inéditos, mesmo que sejam sobre o próprio sul e sudeste do Pará. Junto de obras feitas localmente, e todos filmes sobre a situação de fronteira, violência e exploração capitalista desenfreada. As mudanças tecnologias recentes facilitam muito a produção de um filme. Adrian Cowell e Vicente Rios precisavam carregar rolos de filmes — o arquivo, na PUC de Goias, pesa mais de 7 toneladas. Hoje basta um cartão de memória e HD. Mas se a tecnologia facilita a parte técnica, a construção da linguagem e as reflexões permanecem sendo, no fundo, o mais difícil num filme. Compartilhar esses grandes filmes deve servir para inspirar as pessoas a contarem suas histórias. O trabalho de Adrian Cowell segue a linha dos clássicos documentários britânicos, com ideia bem construída, um roteiro forte, muita pesquisa: essa é uma grande contribuição para se oferecer, pensar de forma abrangente na estrutura dos filmes e das histórias a serem contadas.

ASCOM - O que o público pode esperar do I Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira, o FIA CINEFRONT?
Milanez - Quem for assistir terá a chance de ver filmes duros, mas bonitos, profundos e bem feitos. Grandes documentários. Mas uma discussão sobre o lugar em que vivem. Nâo é um festival sobre “outras fronteiras”, que certamente pode ser um tema de um próximo evento. A fronteira retratada é a fronteira onde os filmes serão apresentados, no mesmo lugar, o que possibilita uma grande chance de reflexão e debates. Essa fronteira que é, na verdade, o centro: o lugar do conflito não deve ser colocado de lado, escondido atrás do exótico e do distante, como muitas vezes assim foram tratados os conflitos no sul e no sudeste do Pará. Nesses filmes, é a partir da fronteira como centro da perspectiva que se discute a condição humana do desenvolvimento.

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