Extensão Universitária: seminários discutem agroecologia nas escolas
Estudantes da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) promoveram seminários sobre agroecologia em escolas públicas de Marabá e Nova Ipixuna. A ação extensionista, resultado da disciplina Ecologia, do curso de Agronomia, ministrada pelo professor Diego de Macedo Rodrigues, tem por objetivo socializar e debater a temática sob diversos aspectos como uso do fogo, sistemas agroflorestais, compostagem e agropecuária.
A turma, que está finalizando o segundo semestre, foi dividida em dez duplas, em que cada uma deveria retornar à escola onde estudou o ensino médio. Quase 300 estudantes entre o 2º e o 3º ano do ensino médio participaram da ação.
Mateus Aguiar voltou ao Colégio Militar Rio Tocantins, Nova Marabá. “É como se eu ainda tivesse uma ligação com a escola, eu me sinto amigo deles; mas, ao mesmo tempo, me sinto distante por estar na Universidade. Esse momento é importante para praticar o contato com o público que é exigido do agrônomo, mas também para trazer a universidade para perto das pessoas que ainda acham que ela é inacessível”, disse Mateus, que reside a duas quadras da escola até hoje.
Atenta à apresentação, Vitória Raquel, estudante do 3° ano, confessou o interesse em cursar Agronomia. “Achei a atividade muito interessante. Eu também quero fazer agronomia porque as questões de natureza são muito importantes. Estamos num tempo em que as pessoas só pensam no dinheiro e prejudicam o meio ambiente, principalmente os animais, que têm sido muito afetados com isso, com a falta de consciência do ser humano”, ressaltou Vitória.
A reflexão sobre a perspectiva financeira do uso da terra também compartilhada pela estudante Lívia Costa. No segundo ano na Escola Estadual de Ensino Médio Maria Irany Rodrigues da Silva, em Nova Ipixuna, Lívia também apresentou muitas questões aos apresentadores do seminário, oriundas de sua vivência na Zona Rural. “A Amazônia é muito desmatada pela ganância das pessoas que não entendem que podemos usar a terra e contribuir para que ela se mantenha em pé. Hoje, eles apresentaram vários modelos de manejo e isso é interessante para mim que sempre morei na Zona Rural como conhecimento para aplicar na minha casa”, concluiu a estudante.
Dhesley de Almeida é o egresso da EEEM Maria Irany. Sua trajetória na escola iniciou no 5° ano do Ensino Fundamental de onde só saiu no 2° ano do Ensino Médio para o curso técnico agrícola. “Voltar à minha escola me deixou feliz porque voltei com alternativas do uso da terra para compartilhar com os estudantes. Em nossa apresentação, reforçamos os Sistemas Agroflorestais (SAFs) como modelo viável de recuperação de áreas e manejo do solo e reutilização dos resíduos de alimentos. Mais de 60% dos materiais que vão para o lixão são alimentos que poderiam ser reutilizados, provocando um grande impacto nessa redução de resíduos”, disse Dhesley.
Em todas as escolas, a interação entre os universitários e os estudantes foi representada nos questionamentos levantados durante as apresentações. Perguntas ou troca de experiências foram compartilhadas na sala, como na turma da professora de biologia Betânia Gomes. “Essa turma é bem participativa. Eles gostam de participar realmente das aulas e isso já vem deles desde o ensino fundamental. Eu vejo que a maioria deles querem passar no vestibular e justamente por isso são muito dedicados. Eles estão aqui com um objetivo: entrar numa faculdade”, destacou Betânia.
Quem também gostou da ação nas escolas foi a gestora da EEM Maria Irany, Rosa Soares. Segundo ela, 40% dos alunos da escola são oriundos da Zona Rural e a discussão da agroecologia pode contribuir no cotidiano deles em casa, principalmente em relação ao manejo de culturas, do solo e da reutilização dos resíduos em compostagem. Também destacou a importância da presença da Unifesspa para despertar o interesse dos estudantes no ensino superior. “Os nossos meninos, aqui em Nova Ipixuna, ficam um pouco mais distante de Marabá. Quando a Universidade vem para escola e vem mostrar que não é tão difícil o acesso em relação à universidade, pode motivá-los a ir à universidade. Podem ser agrônomos, geólogos, psicólogos, se quiserem. E esse movimento de vir à escola, de certa forma, nos trouxe outro sentimento: importância – a universidade veio até nós”, agradeceu a gestora.
“A ação permitiu que os universitários tivessem uma experiência concreta de sala de aula; os estudantes do ensino médio tiveram conhecimentos de um assunto que pode ser tema de questão do Enem, por exemplo; e, ainda, fizemos uma mobilização entre eles sobre a Unifesspa e a importância que ela pode ter no futuro deles”, apontou o professor Diego Macedo.
A Unifesspa sob o olhar dos estudantes do ensino médio
Além dos seminários, a turma aproveitou a oportunidade para coletar informações por meio de um questionário sobre o conhecimento em Agroecologia e sobre a Unifesspa. De acordo com o professor Diego Macedo, “os questionários foram uma parte importante da atividade. Além do conhecimento sobre agroecologia, verificamos também o que eles esperam do ensino superior e o que sabem da Unifesspa. Em uma análise prévia dos quase 300 questionários respondidos, confirmamos algumas hipóteses. Por exemplo, há uma baixa escolaridade dos pais dos estudantes, o que pode ser responsável por eles colocarem o ensino superior em segundo plano. Muitos estudantes também apontaram cursos de instituições particulares e desconhecem cursos da Unifesspa, mesmo estando no último ano do ensino médio”.
Os resultados dos questionários serão sistematizados e o diagnóstico será usado para planejamento de outras ações nas escolas de educação básica. “A partir das informações que nós coletamos com os questionários, é possível pensarmos em futuras ações mais amplas, mais consistentes, mais contínuas, em torno não só da divulgação, mas da interação da Unifesspa com as escolas de ensino médio. Sabemos há desigualdade escolar e vulnerabilidade social nas áreas em que estão as escolas públicas que visitamos, mas o ensino superior deve ser um objetivo desses estudantes. Nossos universitários, sendo egressos das escolas, provam que é possível sim cursar o ensino superior público, gratuito e de qualidade”, destacou o professor.
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