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Lição de vida: Professor emociona público na I Escola de Estudos Abertos do PPGECM da Unifesspa

  • Publicado: Terça, 18 de Dezembro de 2018, 09h47
  • Última atualização em Terça, 18 de Dezembro de 2018, 11h34
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Destaque 1ESC ESTUDOS ABERTOS PPGCEMVítima de uma doença que o deixou cego desde os 9 anos de idade - o professor Éder Pires de Camargo conquistou em 2016 um título muito importante: o de ser o primeiro deficiente visual no Brasil com livre-docência. Ele dá aula de física na Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Ilha Solteira.

Especialmente convidado para participar da I Escola de Estudos Abertos do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Ciências e Matemática (PPGECM), Éder ficará com os alunos da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) até a próxima quarta-feira (19/12), quando encerrará o evento, relatando suas experiências exitosas no ensino de Física e conquistando a todos com sua história de vida.

A inclusão é o tema que norteia todo o evento. Para o professor Eder, a inclusão vai além. Ela é um processo e, segundo ele, nesses últimos anos, o país está passando por uma mudança de paradigmas em que aquelas pessoas que não faziam parte de uma classe dominante, de pessoas que não participavam da sociedade – passam a participar, como por exemplo, pessoas com deficiência, negros e pessoas com diferentes opções sexuais. Ela envolve todos os setores da sociedade como a escola, a universidade e, dentro desse processo, a gente vê todas essas pessoas conquistando seus espaços.

Segundo o professor Eder, estamos longe ainda de obter uma situação ideal que é a de construir uma sociedade mais justa e mais ampla para participação de todos os seres humanos, mas estamos dentro de um processo de mudança na qual tenhamos uma sociedade em que todos participem. “Eu acho que isso não tem mais volta. Penso que há setores e lugares como a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará em que eu percebo muitos projetos de inclusão de pessoas com deficiência, de indígenas, de afrodescendentes – dando abertura a essas pessoas para participação dentro da Universidade. Há políticas de inclusão de pessoas com deficiência no trabalho, há cotas para pessoas negras, e esses são realmente processos que não tem mais volta”, argumentou o docente.1 Escola Estudos Abertos PPGECM 0336

Ainda segundo Pires, a Escola de Estudos Abertos é muito importante para toda comunidade acadêmica da Unifesspa porque trabalha o ensino sistematizado já construído acerca da educação inclusiva, educação especial, ensino de ciências para alunos com deficiência visual, auditiva, trabalhando a questão da diversidade – trazendo aos professores que lecionam e que estão fazendo pesquisa esse rol de conhecimentos que farão parte do referencial teórico desses profissionais que vão interpretar o mundo, colocando isso em prática em suas pesquisas e em salas de aula.

Avanços e perspectivas

O professor acredita que o Brasil já avançou nas questões sobre a educação especial e inclusiva, mas também precisa avançar mais. Para ele, em termos teóricos o país avançou muito. “Hoje nós temos computador com voz, o braile que já é um conhecimento sistematizado há quase 200 anos. Agora, mais recentemente, em termos de acessibilidade, o cego pode ler e escrever por meio do computador - coisa que não existia há 40, 50 anos atrás, os smartphones e os tablets com seus dispositivos de voz. Nós precisamos avançar muito mais no acesso que os deficientes visuais precisam ter a livros digitais. É necessário que nessas discussões sobre acessibilidade, as editoras forneçam livros acessíveis à pessoas com deficiência. É necessário que aquilo que está na legislação como piso tátil, rampas e muitas questões que abarcam a acessibilidade possam ser concretizadas com ações práticas.

Temos o que comemorar

No ensino de Física que começou no Brasil no final da década de 60, início da década de 70, não contemplava nenhuma investigação de como os cegos aprendem Física, e nem como ensinar essa disciplina a alunos com deficiência visual e auditiva. Hoje, temos em torno de 2 a 3% das investigações da área para esse público. Nos últimos 20 anos, vários pesquisadores se interessaram em investigar os processos de ensino-aprendizagem com alunos que tenham todas as necessidades educacionais especiais. Para Eder, isso é reflexo de muitas coisas e, uma delas, é que os alunos começaram a frequentar a escola regular. “Antes disso, esses alunos ficavam no campo da transparência, não eram percebidos. Com a presença desses alunos nas escolas, os problemas educacionais que antes não se conheciam, começam a surgir – sendo apresentadas investigações novas em programas de pós-graduação pelo país.

Entre descobertas e resistências

Segundo o professor, o ser humano é um ser social. “Para mim, a deficiência visual foi um fator muito importante para que eu me constituísse um ser humano. Quando eu fui aluno do ensino fundamental, tive professores que resistiram a minha participação. Eu fui orientado a desistir na 8ª série. Por outro lado, tive um professor que me buscou no fundo da sala e disse que eu tinha potencial, me levou para a primeira carteira e me ensinou matemática. Dentro do contexto social que forma esse professor e que forma esse aluno mesmo com deficiência, você pode encontrar mais ou menos resistência. Aqui na Unifesspa, está se formando um processo de quebra de paradigma de preconceito e de resistência, influindo no elemento cultural e social.

Tema incompreendido

Para o professor Éder Pires, o tema da inclusão ainda é mal compreendido no Brasil, ficando restrito apenas ao campo das pessoas que têm deficiência e no contexto escolar. Por outro lado, esse tema diz respeito a todos os âmbitos sociais. Não temos que nos restringir a falar de inclusão apenas na escola, mas precisamos falar dela no trabalho, no lazer, na acessibilidade arquitetônica e de todos os aspectos da vida em sociedade. Quem é a pessoa que deve ser incluída? Perguntou ele. E ao mesmo tempo respondeu: todas as pessoas devem ser incluídas. Particularmente, aquelas que se encontram excluídas. E destacou que a inclusão é um tema que envolve a todos em todos os espaços sociais, tendo o tema que ser debatido cada vez mais.

Uma lição de vida e uma mensagem aos jovens

“Eu estou aqui, mas aqui está encarnado minha mãe, meu pai, meus dois irmãos, minha avó Maria que hoje está no fim da vida, acamada. Eles estão encarnados em mim. Eu não estaria aqui se não fosse toda renúncia e o apoio dessas pessoas: minha mãe e meu pai que leram pra mim, meu pai que se desdobrou a vida inteira para que hoje eu pudesse estar aqui. Eu sou um fato social. Eu não tenho mérito algum individualmente, meu mérito é coletivo. Eu sou uma coletividade, uma voz plural e familiar. A mensagem que eu deixo para vocês está também no meu livro “O estrangeiro” que é a nossa relação com a dificuldade. Não fuja da dificuldade. Entender e superá-la é a forma de entender-se e superar-se a si mesmo. A solução da dificuldade está nela própria. Se você tem qualquer dificuldade no âmbito social, profissional e educacional, encare-a e transforme a dificuldade. Tente fazer isso que você vai transformar-se a si próprio.1 Escola Estudos Abertos PPGECM 0414

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