IETU: Alunos de Geografia participaram de trabalho de campo no sul e sudeste do Pará
Entre os dias 20 a 24 de maio foi realizado trabalho de campo com os estudantes do primeiro semestre do curso de Geografia do Instituto de Estudos do Trópico Úmido da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).
A atividade foi realizada nos municípios de Parauapebas e Marabá, sob a coordenação do Prof. Dr. Rafael Benevides de Sousa, com colaboração do Prof. Dr. Flavio Gatti e Dra. Luciana Borges.
O trabalho de campo objetivou compreender a produção do espaço do sul e sudeste do Pará, tendo como foco os grandes projetos, territórios e territorialidades resistentes – camponesas e indígenas – nessa parte da Amazônia.
Em campo os discentes vivenciaram aspectos e características da região, aliando os referenciais teóricos, métodos de pesquisa e ensino discutidos em sala de aula, com a produção, organização e transformação do espaço no sul e sudeste do Pará.
O roteiro de atividades foi organizado a partir das dinâmicas territoriais dessa região, como o processo de exploração mineral, a expansão urbana das cidades próximas aos grandes projetos e os impactos nos ecossistemas amazônicos. Também puderam compreender a territorialização camponesa via os assentamentos rurais, territórios indígenas em resistência e a questão indígena na cidade.
Através dos diferentes lugares visitados, os estudantes compreenderam a importância do trabalho de campo para o desenvolvimento da pesquisa na ciência geográfica, e o fortalecimento das práticas articulando ensino, pesquisa e extensão dentro do curso de Geografia.
A discente Ana Maria, que participou da atividade disse que “a semana do trabalho de campo foi uma enxurrada de conhecimentos, de novas expectativas, de novos conceitos de vida. Absorvi muito, principalmente no assentamento, um banho de cidadania e organização”, ponderou.
Essa é uma das propostas do trabalho de campo, formar bons professores-pesquisadores, para que os discentes tornem-se profissionais sensíveis, abertos ao conhecimento e comprometidos com a realidade em que estejam inseridos.
O primeiro e o segundo dia de atividades se deu no Mosaico da Unidade de Conservação de Carajás, em Parauapebas. Com o apoio logístico do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), realizou-se a visita guiada pelo técnico ambiental Alysson de Sousa e as colaboradoras Gisela Campos, Íris Florentino e Luana Farias. Nesse primeiro momento, os estudantes tiveram a oportunidade de observar traços da Floresta de Carajás, bem como as cavidades naturais subterrâneas, geoambientes, recursos hídricos, áreas de exploração mineral, áreas de proteção e conservação e a cidade planejada. A partir desses espaços os discentes conheceram uma amostra do ecossistema amazônico como a floresta ombrófila, áreas de savanas, campos ferruginosos, formações rochosas, fauna e flora endêmica e a importância das cavernas para o equilíbrio ambiental.
“A saída a campo sempre nos traz novidades, nos desperta curiosidades das que estamos habituados. Particularmente, as trilhas dentro da Floresta Nacional de Carajás marcaram-me, pois foi o primeiro contato que tive com cachoeiras, com uma caverna e com os campos ferruginosos”, argumentou o monitor da disciplina Trabalho de Campo e Geografia I, o discente Renato Almeida.
No terceiro dia de trabalho de campo, ainda em Parauapebas, realizou-se uma expedição pelo Assentamento Rural Palmares II, uma das ocupações camponesas via reforma agrária mais antigas do Pará. Nessa comunidade, os alunos foram recebidos pelo poeta e militante Charles Trocate que apresentou os espaços de vivência dos camponeses, como as escolas, posto de saúde, espaço de convivência comunitária e apresentou-lhes as lideranças e algumas pessoas importantes para a história do assentamento.
Essa aproximação e vivência no Assentamento foi um passo importante para a compreensão do processo de produção do espaço agrário do sul e sudeste do Pará através da prática da pesquisa, aproximando as percepções acadêmicas entre teoria e empiria nos estudos geográficos. Para o Professor Dr. Flavio Gatti, “a aula de campo constitui um importante elemento para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, uma vez que o estudante realiza análises sobre determinado espaço geográfico através da vivência em campo, confrontando a teoria e o que se vivencia na prática, possibilitando a espacialização fora da sala de aula e compreendendo os conceitos fundamentais da Geografia”.
Na parte da tarde, na cidade de Parauapebas, os alunos visitaram a Organização Mulheres de Barro, que desenvolvem um trabalho na confecção de cerâmicas com desenhos encontrados em material arqueológico das populações indígenas de Carajás.
No quarto dia de trabalho de campo, já em Marabá, os discentes foram recebidos pelos Akrãtikatêjê, população indígena que faz parte dos 16 povos integrados às terras Gavião que mantiveram traços de seus costumes, tradições e linguagem. Na ocasião, os alunos compreenderam o modo de vida e a cultura indígena na contemporaneidade, como tem se dado o sistema de ensino-aprendizagem na aldeia, e o processo produtivo como a coleta de castanha e a piscicultura.
No último de dia de trabalho de campo, eles visitaram a Casa do Índio em Marabá, na companhia da professora Dra. Tatiane Costa que recentemente defendeu a tese (Etni)cidade indígena na Amazônia: por uma geografia do contato interétnico, pelo Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense. Nessa visita, os discentes observaram a existência de índios na cidade, compreendendo os desafios que os povos indígenas enfrentam para manter a memória de suas ancestralidades, sua cultura e as peculiaridades do seu modo de vida. A Casa do Índio em Marabá é um ponto de apoio para uma parcela da população indígena, principalmente os Xikrin, que vão à cidade para terem acesso a serviços como saúde e educação.
“Pensamos que o mundo ainda é o mais importante laboratório do geógrafo, por isso, o trabalho de campo se destaca como uma ferramenta fundamental para a formação do professor-pesquisador em Geografia”, destacou o Prof. Dr. Rafael Benevides de Sousa.
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