Mesa debate extensão e cultura na Unifesspa
A práxis humanizadora na permanência e formação acadêmica é a temática que permeará as mesas do II Fórum de Extensão e Assuntos Estudantis da Unifesspa. Para o segundo dia de programação, nesta quarta-feira, 25 de setembro, esteve em pauta a extensão e cultura, num diálogo entre professores, técnicos-administrativos e estudantes.
Com mediação do Prof. Dr. Evaldo Gomes Júnior, diretor da Diretoria da Ação Intercultural (DAI), da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis (Proex), a mesa foi dividida em dois momentos: primeiro, tratando a extensão e seus aspectos formativos; e da extensão e cultura na formação dos estudantes e na construção de uma universidade necessária do sul e sudeste do Pará. Compuseram a mesa os servidores da Unifesspa, Ivonilce Brelaz, Normando Viana, Evandro Medeiros, Margarida Negreiros e Bruno Malheiros.
Para a chefe da divisão de programas e projetos da Proex, a extensão é uma práxis geradora de humanização e não prestadora de serviço. “É uma atividade que deve ser gratuita, para conversar com a população, incentivar a cidadania. Quando ela é pensada como prestação de serviço ela cai na desumanização”, falou a técnica em assuntos educacionais.
A fala do Prof. Dr. Normando Viana, responsável pelo setor de registro e acompanhamento de programas, foi sobre a necessidade de acompanhamento e avaliação dos projetos, não para controle, mas para entendimento do que pensam os realizadores de atividades de extensão e, principalmente, os sujeitos da comunidade em geral envolvidos nas ações. “Precisamos pensar aqui como estabelecer modelos de diagnóstico e avaliação que sejam contextuais, processuais e, sobretudo, mais dialógicos e reflexivos sobre as práticas de extensão na Unifesspa”, ponderou o professor.
No debate com os presentes, a Profa. Dra. Natália Carnevali, destacou a relevância da temática principalmente para os novos professores da Unifesspa. “Muitos de nós, especialmente os novatos, não sabem o que é e como fazer extensão. Há lugares em que a extensão é só mais uma atividade e, aqui na Unifesspa, vemos que tem uma visão completamente diferente do que vemos em outras regiões do país”, falou a professora do Instituto de Estudos do Xingu (IEX).
A Profa. Dra. Daniele Vasco questionou à mesa como fica a função da extensão frente aos cortes e ao programa Future-se e observou que “a universidade está colocada numa relação tensa, conflituosa, frente ao mercado e ao desmonte das políticas públicas”, disse a professora substituta no Instituto de Estudos em Saúde e Biológicas (IESB) da Unifesspa.
De acordo com o professor Evaldo Gomes Júnior, o Future-se fere prerrogativas da universidade, como sua autonomia. “Diálogos como esse, que foram feitos esse ano nos campi fora de sede também, de forma ampla, ficariam impossibilitados ou não estariam elencados como atividade acadêmica, nos colocando em uma lógica mercadológica”, destacou o professor.
Em seguida, Evandro Medeiros apresentou iniciativas em cultura em diversas linguagens artísticas para valorizar e incentivar a cultura da região em que a Unifesspa está. “Pensar a extensão é pensar no projeto de universidade que queremos. Precisamos de uma produção cultural que dialogue com a vida, que se enriqueça com ela pelas práticas de pessoas que vivem nessa região e transformem essa vida junto com eles”, disse o professor doutor do Instituto de Ciências Humanas (ICH).
Em sua fala, o Prof. Dr. Bruno Malheiros relembrou a história de 30 anos que trouxe a Unifesspa aonde está. “Não há extensão sem o relacionamento com o chão em que esta universidade pisa. Os 6 anos da Unifesspa são também os 30 anos em que estamos frente à uma diversidade étnica-cultural, de uma demanda da educação básica, dos povos tradicionais e, por isso, nossa política de extensão e cultura deve ser de intervenção cultural”, falou o professor.
Tem no viés da memória e interculturalidade, a professora Margarida pontuou em sua fala a extensão como espaço de diálogo com os outros setores da sociedade. “Essa universidade surge de extensão e é por isso que precisamos firmá-la na construção da universidade que queremos. Os agricultores nos procuraram para extensão rural; os professores para formação da educação básica; e é com o povo que precisamos dialogar e não reproduzir modelos de universidades que não os levem em consideração”, destacou a professora.
No debate, a estudante Juliana Lourenço destacou sua experiência como bolsista em um projeto de extensão em etnobotânica, com foco em plantas medicinais. “O que a mesa apresentou vai de encontro com o que fazemos no nosso projeto. Trabalhamos com mulheres agricultoras e, às vezes, elas têm vergonha de nos falar como fazem seu cultivo porque somos da universidade. Por isso, sempre reforçamos que estamos também para aprender e contribuir no aperfeiçoamento do que elas já fazem”, contou a estudante de Biologia, do IEX.
Quem também contou a experiência em ações culturais foi o bolsista de extensão Rômulo Gemaque. “Participar das ações culturais que foram apresentadas aqui como o festival de cinema, a mostra de música e outras ações que desenvolvemos na Proex, me despertou para a diversidade cultural da região. Pude ver na Mucanpa de São Félix do Xingu, por exemplo, o seu Viana, um senhor de 80 anos, mostrando sua poesia e música sobre o Xingu”, disse o estudante de Psicologia.
Atenta às falas, a estudante de psicologia Tayne Araí Guarany, ressaltou o espaço como momento fundamental para formação. “Eu nunca fui incentivada a participar dos eventos da universidade e sinto falta disso nos professores, vendo agora esses professores nessa mesa, falando sobre a extensão e a cultura que podemos construir na nossa formação aqui. Esse é o primeiro que participo e aprendi muito aqui”, falou Araí Guarany.
“Nossa região é ímpar, formada por uma complexidade social que tem que ser reconhecida, que tem seus saberes e fazeres e a universidade tem que usar a extensão e cultura como elemento de reafirmação dessa realidade; se não for isso, não vale a pena a universidade existir”, concluiu a professora Margarida Negreiros.
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