Inclusão da licença-maternidade no Lattes corrige distorções e tira da invisibilidade mães cientistas
Desde o dia 15 de abril deste ano, mulheres que produzem ciência e tecnologia no país conquistaram um importante reconhecimento, até então na invisibilidade: o registro da licença-maternidade no Currículo Lattes, plataforma oficial do CNPq onde são cadastrados os cientistas brasileiros das diversas áreas do conhecimento.
A inclusão do registro de afastamento para mães pesquisadoras atende a uma demanda antiga que, além do reconhecimento dessa importante fase de suas vidas, busca corrigir eventuais distorções sobre a mensuração da produção acadêmica dessas mulheres, situação que poderia prejudicá-las, por exemplo, na disputa por bolsas de pesquisa. O preenchimento dessa nova seção na plataforma, nomeada de “licença”, é opcional.
Mãe do pequeno Oliver, de 5 anos de idade, a professora e cientista da Unifesspa, Ana Cristina Campos, comemora essa tão esperada atualização no currículo. “Tirar a maternidade da invisibilidade nos dá esperança de termos novas oportunidades e melhores políticas de inclusão para que essas mães continuem sendo cientistas e produzindo conhecimento, mas também continuem sendo mães, cuidando e educandos os filhos, porque isso é uma missão para a vida toda”, argumenta.
Dados do último Censo 2014 do Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq apontam que 50% do total de pesquisadores cadastrados são mulheres. Em termos comparativos, a participação delas teve aumento de 7 pontos percentuais considerando os últimos 15 anos.
As mulheres ainda estão sub-representadas na ciência. Em todo o mundo, estima-se que elas representem apenas 28,8% da população de cientistas. Um fator determinante da sub-representação das mulheres na ciência é o impacto da maternidade na carreira acadêmica e é nesse sentido que a decisão do CNPq representa uma valiosa conquista para todas elas.
“Como conhecedora dessa realidade, posso afirmar que vivencio obstáculos, desafios e decisões difíceis todos os dias para seguir trabalhando na ciência e também ser a melhor mãe possível para meu filho. Não farei escolhas, pois ambos me preenchem como ser humano e fazem parte de mim. No entanto, isso só será verdadeiramente possível se houver políticas e ações afirmativas, e um olhar diferenciado, mais empático e humano para esta temática”, ressalta Ana Cristina.
Histórico
Em 2019, o Movimento Parent in Science (mães e pais na ciência) protocolou um pedido oficial no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), responsável por gerir a Plataforma Lattes, visando a especificação dessa licença nos currículos. O pedido levou em consideração estudos que mostraram os impactos da maternidade na carreira científica das mulheres e como essas pesquisadoras poderiam ter sua competitividade prejudicada.
“Inúmeros desafios são enfrentados para as cientistas que escolheram a maternidade. Ainda sem muita visibilidade, há pesquisas que relatam como a baixa representação feminina da ciência está relacionada à maternidade. Esta não é a única causa, e nem se trata de colocar a culpa na maternidade, mas também considerar o contexto histórico, cultural e social que sempre foi desfavorável para as mulheres”, destaca Ana Cristina.
Mais sobre o Parent in Science
Surgido em 2016, o Parent in Science é um movimento liderado por cientistas mães e pais que resolveram visibilizar uma questão que, até então, era ignorada no meio científico: a maternidade (e paternidade!) dentro do universo da ciência do Brasil.
Desde então, o projeto promove discussões, pesquisas e avaliação das consequências da maternidade e paternidade na carreira científica de mulheres e homens, em diferentes etapas da vida acadêmica. Conheça mais sobre o projeto clicando aqui.
Seus membros embaixadores estão engajados em promover e discutir políticas públicas que possam diminuir os impactos dessa complexa relação. Na Unifesspa, a professora Dra. Ana Cristina Campos, da Faculdade de Saúde Coletiva, integra o projeto, sendo uma seis das embaixadoras do Parent in Science na região Norte.
Projetos locais buscam mapear a realidade de mães cientistas
Na esteira de ações em prol do reconhecimento e valorização das mães cientistas, a pesquisadora Ana Cristina atualmente desenvolve o projeto "Maternidade na Ciência Amazônia". Essa ação tem sido realizada no âmbito do Laboratório e Observatório em Vigilância & Epidemiologia Social (LOVES) e também por meio das redes sociais da professora.
A meta desse projeto é reunir informações sobre as mães e cientistas servidoras da Unifesspa para propor discussões e futuras ações de melhorias das condições de trabalho. “É urgente se pensar em ações afirmativas em prol da diversidade e inclusão na ciência, uma vez que as desigualdades de gênero ficaram ainda mais evidente durante o período de pandemia”, afirma a pesquisadora.
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