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Professor da Fecampo recebe menção honrosa por artigo no X Prêmio Milton Santos

  • Publicado: Sexta, 07 de Mai de 2021, 18h49
  • Última atualização em Sábado, 08 de Mai de 2021, 11h27
  • Acessos: 1721

prof. brunoO “Prêmio Milton Santos de Artigo” da Associação Nacional de Pós-graduação e pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (Anpur) divulgou, no fim do mês passado, os trabalhos vencedores da edição 2021.

O prof. Bruno Malheiro, da Faculdade de Educação do Campo (Fecampo) da Unifesspa, recebeu menção honrosa em seu artigo “Geo-grafia dos grandes projetos de des-envolvimento: territorialização de exceção e governo bio/necropolítico do território”. O professor Valter do Carmo Cruz, da Universidade Federal Fluminense (UFF), participa como co-autor do trabalho.

Publicado pela revista “GEOgraphia”, o artigo apresenta uma análise dos grandes projetos como paradigmas de compreensão do capitalismo contemporâneo. Os jurados ressaltaram a relevância do tema do trabalho e destacaram que as dimensões do que o artigo nomeia como “territorialização da exceção” é crucial para entender alguns dos processos em curso no território brasileiro.

O prêmio Milton Santos de Artigo visa estimular a pesquisa teórica e aplicada na área de estudos urbanos e regionais e de estudos para a avaliação e proposição de políticas, planos e projetos urbanos e regionais, assim como aprofundar o conhecimento sobre as realidades urbanas e regionais brasileiras. O processo de escolha do artigo foi realizado pelo júri em três etapas, com a seleção dos trabalhos de maior destaque. Na etapa final foi escolhido um artigo para o Prêmio e três menções honrosas.

Para o professor, ter uma pesquisa construída a partir da Amazônia nesse tipo de premiação, atesta não apenas a qualidade e pertinência do conhecimento produzido a partir dessa região, mas também que os olhares a partir da Amazônia são fundamentais para entender e repensar o Brasil. “É bom que consigamos fissurar uma geopolítica do conhecimento que, geralmente, privilegia pesquisas e olhares construídos a partir de lugares que sempre foram escutados. Entendo esse reconhecimento, portanto, como um recado de que a Amazônia tem muito a contribuir não apenas na compreensão, mas também na transformação de um Brasil hoje em ruínas”, afirma.

Mais sobre o trabalho

Um dos desdobramentos da tese do professor Bruno Malheiro, o artigo é, também, resultado de um esforço coletivo entre o Laboratório de Estudos em Território, Interculturalidade e R-existência na Amazônia (LaTierra), coordenando pelo professor em parceira com o prof. Fernando Michelotti, desde Marabá, e o Núcleo de Estudos em Território, Ação Coletiva e Justiça (NETAJ), coordenado por Valter do Carmo Cruz, desde a UFF em Niterói.

O trabalho se propõe entender os grandes projetos de desenvolvimento (projetos mineiro-metalúrgicos, petroquímicos, grandes usinas hidrelétricas, estradas, portos, hidrovias, ferrovias, etc.) como paradigmas de compreensão do capitalismo contemporâneo no Brasil. Três ideias são centrais. A primeira é que os grandes projetos de desenvolvimento, mesmo diante da radicalização da divisão da sociedade brasileira, são escolhas econômicas que atravessam os vários espectros da política, de direita à esquerda, eles organizam a dinâmica espacial de expansão das commodities no Brasil. 

A segunda ideia, contraponto leituras que pensam esses empreendimentos pela lógica da modernização e progresso, é o tratamento deles como construtores de ruínas, que tornam possível o uso da violência para a produção da riqueza, transformando o sacrifício de povos e a destruição da natureza como caminhos naturalizados.

Essas duas ideias levam a entender que a racionalidade dos grandes projetos, que no artigo é aprofundado pelo conceito de territorialização de exceção, expressa marcas que ajudam a nos entender como uma sociedade, na qual foi possível a emergência de regimes autoritários, tal qual o que vivemos hoje, pois estas marcas são: uma irrelevância às vidas despedaçadas pela apropriação privada da terra e dos bens da natureza, um modo colonial de tratamento às diferenças, uma noção instrumental da natureza como obstáculo e um modo autoritário, centralizado e antidemocrático de tomada de decisões.

A crítica aos grandes projetos como caminhos absolutos de desenvolvimento, entretanto, só se completa se for entendido que a geografia desses empreendimentos é, também, uma geografia de lutas sociais e r-existências, o que faz pensar que outros horizontes de sentido para a sociedade só são possíveis se conseguirmos ouvir a luta de muitos povos e comunidades em defesa dos rios, das florestas, da terra, enfim, da vida.

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