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PARFOR

Estudante de Pedagogia defende primeiro TCC escrito em língua xikrín

  • Publicado: Segunda, 09 de Agosto de 2021, 16h55
  • Última atualização em Quarta, 11 de Agosto de 2021, 15h17
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O curso de Pedagogia pelo Parfor (Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica) tem sua primeira monografia escrita totalmente na língua indígena Xikrín. O trabalho que foi realizado pelo acadêmico do curso de Pedagogia, Katop ti Xikrin, e orientado pelo professor Lucivaldo Silva da Costa, teve sua banca de defesa na última quarta-feira (04).

O estudante de 33 anos, que é da etnia xikrín, município de Parauapebas (PA), é o primeiro de seu colegiado a defender um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em língua indígena e também é o primeiro do seu povo a graduar. “Me sinto honrado de ser primeiro, muita felicidade fica na minha história de vida e do meu povo. Hoje sou exemplo para minha comunidade, estamos quebrando barreiras, com isso demonstramos que podemos chegar em qualquer lugar, igual todo mundo”, enfatiza.

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Com o tema: “I bê ngôkre bê xikrin kam i Jé pi'ôk jarei 'ã I djuare: kam i Jé kukradja mē i kaben mã Mari kadjy”, que significa “Minha trajetória acadêmico enquanto indígena xikrin do katete: contribuições para a manutenção e fortalecimento da cultura e da língua do meu povo”, o estudante aponta como os processos formativos têm contribuído para a manutenção e fortalecimento da cultura e língua indígena, trazendo como perspectiva sua etnia.

A proposta de Katop é mostrar, com sua pesquisa, que a escola pode ser uma parceira da comunidade. “Pode nos proporcionar conhecimentos da cultura do não-indígena para podermos coletivamente pensar em nossos projetos de autonomia e autodeterminação, mas também, ser um espaço privilegiado de aprendizados dos saberes tradicionais, sendo, assim, um verdadeiro espaço de diálogos intracultural e intercultural e bilíngue”, ressalta Katop em seu estudo.

WhatsApp Image 2021 08 09 at 16.17.53“Tudo no TCC do Katop-Ti é importante. Até mesmo a construção do TCC, já que é o primeiro texto acadêmico escrito em língua xikrin por um nativo”, relata o orientador.

 

 

 

Entre todo o conteúdo existente na pesquisa do acadêmico, Lucivaldo destaca a importância que o estudante faz sobre a educação escolar indígena que ele recebeu na aldeia. “Por um lado, ele compreende a importância da educação escolar como um instrumento para empoderar o povo na luta de seus projetos de futuro, de sua autodeterminação e autonomia. Por outro lado, ele crítica a educação escolar na aldeia, que se pretende bilíngue. Ele deixa claro que a escola tem negligenciado a língua e a cultura Xikrín. Ele reivindica uma escola que seja não só de direito, mas de fato, bilíngue, intercultural e diferenciada, na qual haja diálogo entre a cultura Xikrín e a cultura brasileira. A escola não pode ser mais assimilacionista”, destaca Lucivaldo dando ênfase a perspectiva do jovem pesquisador, Katop.

 Sobre Katop ti xikrin

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O estudante ingressou na Unifesspa em 2016.1 pelo curso de Pedagogia pelo Parfor, pertence ao povo Xikri do Katete. Trabalha na área da educação desde 2008, onde começou como professor intérprete na Escola Municipal de Ensino Fundamental Indígena Bep Karoti xikrin. Trabalhou também na Coordenação de Língua Indígena e Cultura Identidade, no setor de educação escolar indígena. Atualmente trabalha no departamento técnico pedagógico da Secretaria de Educação de Parauapebas (SEMED), mais especificamente na coordenação de educação indígena.

Sobre a experiência de dividir a sala de aula com Katop, Luzinete Rodrigues, colega de curso, relata que foi algo que saiu dos livros para o mundo real, que veio para quebrar estereótipos. “Estudar com o aluno Katop ti Xikrin foi algo novo, que saiu do livro para o real. Ao falar de indígenas, a imaginação é de que moram em uma oca e que viviam da pesca, porém estudar com o Katop percebi que foi muito mais além. Aprendi que a cultura de um povo é algo que tem que estudar, aprender e respeitar”, destacou a acadêmica enfatizando que o colega sempre lutou pelos seus objetivos e quis alcançar seus ideais.

 

 

Incentivo

A ideia de escrever um TCC na língua indígena Xikrin veio do professor e orientador do Katop, Lucivaldo Silva da Costa. O docente explicou que é um direito constitucional do indígena ter formação escolar, tendo a língua materna como instrução e também produzir ciência na língua indígena. “Escrever o TCC na língua Xikrín é um ato político de mostrar ao Estado brasileiro que o Brasil é um pais multicultural e plurilíngue e que as línguas e culturas autóctones precisam ser não só valorizadas, respeitas, mas também que sejam veículos de produção e transmissão de saberes, sejam saberes tradicionais, seja saberes globais”, frisou.

Atualmente a Unifesspa conta com 131 acadêmicos indígenas. Das vagas ofertadas pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), 84 são destinadas ao Processo Seletivo de Indígena e Quilombola. Até o presente momento a instituição já graduou 21 alunos indígenas.  Esses dados representam a conquista de um sonho para brasileiros de diversas etnias, como Katop que sempre sonhou em ser pedagogo. “Sempre sonhei de ser pedagogo, hoje virou realidade”, conta o estudante descrevendo que sempre teve o apoio do pai, mãe, avô que hoje não estão mais presentes. Também destaca o apoio de sua esposa e filha. “Eu sempre batalhei, não foi fácil, mas não impossível. Só tenho agradecer a Deus por tudo na minha vida”, contou realizado pela grande conquista.

Inclusão Indígena. 1

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