Lançamento do livro “Em Câmara Lenta: gestos de resistência ao terror”
Entre os meses de outubro e novembro, foi realizado o lançamento do livro “Em Câmara Lenta: gestos de resistência ao terror” resultado do trabalho de pesquisa que gerou a dissertação de Mestrado do Diretor do Instituto de Estudos do Xingu (IEX), Prof. MSc. Carlos Augusto Carneiro Costa. No dia 22 de outubro, foi realizado o coquetel na Casa das Rosas, em São Paulo, onde o autor discursou para críticos e professores de literatura; no dia 04 de novembro, o prof. Carlos apresentou o seu trabalho durante a 3ª Jornada de Literatura de Resistência ocorrida no campus da UFPA, em Abaetetuba; e dia 09 de novembro, no, campus da UNIFESSPA em São Félix do Xingu no IEX, o autor realizou o lançamento junto aos seus alunos e colegas de trabalho.
Desde pelo menos as últimas duas décadas, vivenciamos no campo das Humanidades o boom da pesquisa acerca da memória. Nesse processo, um grande volume de estudos críticos voltados para o testemunho e suas derivantes, entre as quais o romance-testemunho, o testemunho romanceado, o documentário ficcional, para falarmos apenas das formas mais recorrentes, se fez presente especialmente no meio acadêmico. No caso da literatura brasileira, essas possibilidades literárias trazem em si a expressão da catástrofe e da fragilização do humanismo, aliados a um paradoxal problema para a linguagem: a incomunicabilidade, tão afeita à escrita marcada pelo trauma.
A dureza do regime civil-militar de 1964 se deixou aí representar especialmente pelas ações repressivas voltadas ao sequestro, à tortura, ao desaparecimento e ao assassinato dos opositores, aspectos que têm permanecido meticulosamente explorados em vários romances produzidos na égide das atividades repressivas do regime ou posteriormente à Abertura, como é o caso de Em câmara lenta, do cineasta e escritor Renato Tapajós. O romance trata dos absurdos cometidos pelo braço armado do regime autoritário, da clandestinidade e, sobretudo, da dor singular remetida àexperiência da tortura e da morte infame imposta ao resistente.
A pesquisa desenvolvida por Carlos Augusto Costa em razão de Em câmara lenta vem contribuir com os estudos que englobam tanto a teoria do texto literário quanto a teoria do testemunho, bem como o papel da crítica literária no entorno dos problemas relativos à censura de produções artísticas na vigência do regime, na medida em que o pesquisador institui interessante e necessário diálogo metacrítico com a recepção que Antonio Candido faz do romance de Renato Tapajós. Esse percurso nos remete a Maurice Halbwachs, para quem as lembranças precisam ser reconstruídas a partir de uma base comum. Assim como Halbwachs, Pierre Nora nos fala do patrimônio recordativo material e imaterial, necessário para a constituição de identidades. São estudiosos que nos fazem lembrar o tempo todo que o trabalho com a memória é sempre um apelo à linguagem. É sempre também um ato herético, pois rememorar implica reelaborar, o que implica ser o recordado sempre o outro, e não mais o mesmo. Dessa forma, o recordado resulta sempre em desvio, cujo limite reside somente na decisão de esquecer ou lembrar.
O estudo de Carlos Augusto Costa se vale de maneira criteriosa dessa dimensão, pois sem dúvida opta por ser um trabalho crítico a serviço da necessidade de não esquecer.
Tânia Sarmento-Pantoja
(Doutora em Estudos Literários
Professora e Pesquisadora da Universidade Federal do Pará)
Redes Sociais