Egressa da Unifesspa vence prêmio de melhor dissertação de Mestrado da União da Geomorfologia Brasileira
Egressa do curso de Geologia da Unifesspa e Mestra em Geociências, Jandessa de Jesus venceu a premiação da Melhor Dissertação de Mestrado Prof. Aziz Nacib Ab’ Saber, concedido pela União da Geomorfologia Brasileira (UGB). O resultado foi divulgado esta semana, durante o XII Simpósio Nacional de Geomorfologia (SINAGEO).
O trabalho premiado é fruto de uma pesquisa iniciada em 2014, durante a graduação, quando a Jandessa era bolsista de iniciação científica do Prof. Dr. Leonardo Brasil (IGE/Unifesspa). A pesquisa consiste no estudo geomorfológico e geocronológico de detalhe de uma área na região do Médio Tocantins, contando com a participação dos professores Fabiano Pupim (Unifesp) e André Sawakuchi (USP).
Esse estudo resultou no Trabalho de Conclusão de Curso, defendido em dezembro de 2016. Contudo, a área apresentou potencial para continuar a pesquisa e o projeto foi levado para o Programa de Pós-Graduação em Geociências (Geoquímica e Geotectônica) do Instituto de Geociências (IGc) da Universidade de São Paulo (USP). Em março de 2020, a pesquisadora defendeu sua dissertação de mestrado, sob orientação do prof. Fabiano Pupim, sendo este trabalho agora premiado pela UGB.
Esta área de pesquisa foi visitada na década de 80 pelo Prof. Ab'Saber, que pela primeira vez descreveu a região. Após quase 4 décadas dessa visita, a pesquisadora apresentou o primeiro estudo geomorfológico e geocronológico de detalhe da área. “É imensurável o prestigio de ter continuado o estudo numa área que foi iniciada pelo grande geomorfólogo brasileiro Prof. Ab’Saber e hoje receber o prêmio que leva seu nome coroa todos os envolvidos na pesquisa, além de colocar em debate nacional a evolução do rio Tocantins durante o Quaternário tardio e contribuir para o entendimento dos sistemas fluviais do leste da Amazônia”, afirma Jandessa.
Sobre a pesquisa - O sistema fluvial formado pelo rio Amazonas e seus afluentes têm sido alvo de muitos esforços com o objetivo de compreender sua evolução geológica ao longo do Quaternário. Contudo, a grande maioria desses estudos está concentrada na porção oeste da bacia.
Apesar dos recentes avanços no entendimento dos fatores que influenciam os sistemas fluviais na Amazônia Ocidental, existe uma lacuna no entendimento dos depósitos fluviais do rio Tocantins que drena o extremo leste da Amazônia. Os dados geológicos disponíveis são escassos e muitas questões ainda estão em debate, principalmente sobre quais são os fatores alogênicos e/ou fatores autogênicos mais importantes para a evolução desses sistemas.
Neste contexto, o objetivo foi a elaboração de um modelo de evolução geológica-geomorfológica para os depósitos fluviais no médio rio Tocantins baseado na análise geomorfológica, sedimentológica e geocronológica. A escolha da área de estudo deve-se à localização, pois esse trecho do rio Tocantins recebe água e sedimentos de áreas de transição entre os biomas Amazônia e Cerrado, assim, os depósitos sedimentares têm grande potencial para registrar flutuação nesses ambientes, e a existência de uma lacuna de estudos que abordam a evolução geomorfológica dessa região.
Os resultados foram apresentados em dois artigos, um aprovado na Journal of Maps intitulado “Geomorphology of fluvial deposits in the middle Tocantins River, eastern Amazon” (disponível em https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/17445647.2020.1822938). O segundo artigo “Late Quaternary precipitation changes as the primary driver of aggradation and incision phases of the Tocantins River, Easternmost Amazonia” está submetido na Geomorphology Journals.
O primeiro artigo apresenta o mapeamento geomorfológico dos depósitos fluviais do médio Tocantins em três unidades geomórficas. Este mapeamento foi integrado com idades de soterramento de sedimentos em 33 pontos as margens do rio Tocantins, entre os municípios de Bom Jesus do Tocantins e Itupiranga que indicaram que o remodelamento do rio Tocantins e a formação da paisagem fluvial da região de Marabá pode ter ocorrido em 3 principais fases ao longo os últimos 160 mil anos impulsionadas por mudanças no regime de chuvas na região centro-oeste do Brasil, onde se localiza as cabeceiras dos rios Tocantins e Araguaia.
Situando a região por meio de bairros, os núcleos Morada Nova e São Félix estão sobre a parte mais antiga datada dessa região, correspondem a um ambiente que foi formado pelo rio Tocantins e afluentes como o rio Flexeiras e Murumuru entre 160 a 32 mil anos e estão. Nesse período o Tocantins pode ter recebido contribuições importantes dos rios tributários que conseguiam transportar rochas do tamanho de melões.
A planície de inundação, por exemplo, corresponde aos bairros Marabá Pioneira e Francisco Coelho estão sendo construídas durante os últimos 5 mil anos, é sazonalmente inundada pelos rios Tocantins e Itacaiúnas. Esta planície de inundação é a mais extensa do rio Tocantins e o local onde ocorre o recrutamento de peixes migratórios e não migratórios (Akama, 2017). Portanto, é um importante habitat para a conservação de ecossistemas aquáticos.
As fases de agradação (construção) e degradação (erosão) são resultados de perturbações no abastecimento de sedimentos e no escoamento desse rio. Essas fases de gradação e incisão do rio Tocantins parecem estar sincronizadas com as mudanças registradas pelos rios da Amazônia central e ocidental, sugerindo que o SASM é o principal controle dos sistemas fluviais amazônicos.
O mapa geomórfico apresentado neste estudo pode ser útil no planejamento ambiental e socioeconômico das atividades ligadas ao rio Tocantins e suas várzeas, uma vez que o delineamento e caracterização das unidades cartográficas fornecem informações sobre a dinâmica física da paisagem sob intervenções humanas, incluindo por exemplo tipos de substrato e susceptibilidade a inundações sazonais ou históricas.
Versão simplificada disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/44/44141/tde-03082020-094712/pt-br.php
*Informações sobre o estudo disponibilizadas e sob responsabilidade da pesquisadora
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