Estudantes participam de vivência de campo em assentamento e ajudam a construir relatório sobre área em litígio
Atendendo a uma solicitação da Vara Agrária de Marabá, uma equipe interdisciplinar de professores, alunos e servidores da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) visitou, nos dias 20 e 21 deste mês, um assentamento localizado na Vila Irmã Dorothy, no município de Breu Branco (PA).
A área passa por situação de litígio, e o poder judiciário requereu da universidade a elaboração de um relatório socioeconômico das famílias ocupantes da área, constando a quantidade de idosos, crianças e demais pessoas vulneráveis, visando assegurar o cumprimento de direitos humanos dos envolvidos.
De posse dessa demanda, a Administração Superior articulou junto à Comissão Pastoral da Terra, pesquisadores do Instituto de Estudos em Desenvolvimento Agrário e Regional (IEDAR), Instituto de Ciências Humanas (ICH) e do Núcleo de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (Nuade) a construção do documento.
Considerando a viabilidade e oportunidade de transformar essa demanda do judiciário em atividade acadêmica, em conformidade com o Projeto Pedagógico do Curso (PPC), a Faculdade de Ciências Econômicas (FACE/IEDAR) propôs ampliar a ação em uma vivência de campo com a participação de estudantes, e a partir disso colaborar com a construção do relatório.
O diretor-geral do Instituto de Estudos em Desenvolvimento Agrário e Regional (IEDAR), prof. Daniel Nogueira, destaca que “essa ação fortalece o papel da universidade no ensino, pesquisa e extensão, bem como o caráter interdisciplinar dos processos de aprendizagem. Além disso, possibilita aos nossos estudantes uma formação muito mais ampla e sensível à realidade social”. Nogueira lembrou, ainda, que esta é a primeira atividade de campo após o início da pandemia.
Para os estudantes, a atividade de campo foi marcante e trouxe à tona realidades por vezes esquecidas. “Essa vivência nos fez lembrar o porquê de estamos na universidade e a nossa sua função social. Possibilitou conhecer a realidade de pessoas que, às vezes, a gente nem lembra que estão passando por esse tipo de situação. Deu para ver o carinho e como elas acreditam no nosso trabalho”, afirma o estudante Ygor Batista.
Acadêmica do 9º período do curso de Ciências Econômicas, Tamires da Conceição classificou como uma experiência de vida ter participado desta ação e espera que o diagnóstico realizado possa ajudar nas decisões sobre o litígio. Essa visão também é compartilhada pelo seu colega João Alberto Vidal, que se viu inserido numa realidade muito distante da que vive. Em suas observações, ele ressalta que a maioria das famílias do assentamento produz alimentos apenas para própria subsistência.
Já a discente Stefany Arruda viu de perto os problemas relacionados ao acesso à educação de crianças que vivem naquela localidade. “Conversei com algumas crianças, que tinham por volta de 10 a 13 anos, e foi possível perceber que elas ainda não conseguiam ler. E as perspectivas não são boas por causa de todas as dificuldades de acesso à escola e, mais que tudo, da falta de estrutura para estudar em casa”, diz.
Para a acadêmica Jéssica Costa, do 7° semestre, o que mais chamou a atenção foram as condições de moradia, já que muitos vivem em barracos sem estrutura. “Também me comoveu a alegria de todos eles, apesar das dificuldades. Os moradores foram muito receptivos e responderam a todas perguntas. Dava para ver no olhar deles que éramos a última esperança deles de continuarem lá, na casinha simples deles”, finaliza.
Papel social e compromisso da universidade pública
O trabalho de campo em questão é uma das possibilidades do diálogo entre a universidade pública e outros setores sociais, como é o caso do Poder Judiciário. Com a expertise própria de professores e alunos e com base em conhecimentos científicos, a demanda da Vara Agrária de Marabá converteu-se em uma possibilidade de produzir conhecimento socialmente referenciado, isto é, a partir de realidades concretas e com finalidades fundamentadas nos direitos humanos e no interesse coletivo.
Além do relatório socioeconômico, a equipe produzirá um levantamento demográfico e um de produção das 43 famílias assentadas na Vila. "Foi uma experiência rica em diversos aspectos para toda a equipe envolvida. Isso mostra o compromisso e o papel social da universidade diante das realidades da nossa região", ressalta Nogueira.
Com os dados em mãos, a Vara Agrária deve fundamentar a decisão sobre o processo que segue em tramitação.
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