Egresso com deficiência visual compartilha sua trajetória de graduação na Unifesspa
A inserção de pessoas com deficiência ao meio acadêmico é um tema que ainda traz discussões intensas, principalmente quando se fala no crescimento do número de discentes que necessitam de recursos ou de alguma forma de acessibilidade. Na Unifesspa, o Núcleo de Acessibilidade e Inclusão Acadêmica (NAIA) busca auxiliar a todos os discentes que necessitem de algum tipo de ajuda para sua trajetória dentro da universidade. Um dos discentes atendidos e que compartilhou sua experiência foi Gustavo Fernandes, egresso do cursos de Ciências Econômicas.
Residente de Marabá, recentemente ele concluiu a graduação pela Unifesspa e conta que na graduação uma de suas dificuldades, como uma pessoa com deficiência visual, foi com relação a questões matemáticas e leituras de gráficos. “Desde o ensino médio eu já tive um pouco dessa dificuldade justamente porque eu perdi a visão um pouco antes de entrar no ensino médio. E essa base que era necessária dentro do curso eu acabei perdendo um pouco, por não conseguir acompanhar por estar ainda me adequando ao sistema braile e todas as ferramentas que uma pessoa com deficiência visual deve utilizar durante o aprendizado. Assim, justamente por não ter essa carga da matemática e da própria leitura de gráficos, porque mesmo imaginando é muito difícil você estar de acordo com aquilo que o livro descreve o que o professor está utilizando em sala de aula”. Já a parte mais fácil, para Gustavo, foi a parte teórica. Devido as tecnologias assistivas como leitores de tela, entre outras, o estudo a partir de livros e textos foi mais acessível.
Gustavo também chegou a ter as aulas remotas, período que aconteceu devido a pandemia, e contou que foi um dos períodos mais fáceis de aprendizado “Justamente pelo domínio das tecnologias assistivas que me facilitaram muito na busca do conteúdo e também nas aulas que eram ministradas virtualmente, com a preparação das aulas, o material disponibilizado e tudo mais. Os professores também foram muito atenciosos prepararam todo o material já com essa atenção do período remoto levando em consideração a distância e todos os outros eventos que fazem com que houvesse uma certa barreira na comunicação, já que a comunicação era feita por meio de aplicativo ou por meio de e-mail.” Um dos pontos positivos que o egresso conta é o fato de não ser necessária a locomoção de sua casa para a universidade, “Eu tinha que sair todos os dias de casa pegar carona com meu irmão ou com meu pai para ir à universidade e de lá eu tinha que pegar o ônibus da própria universidade com um colega. No início mesmo eu tinha que ir com um monitor justamente por ainda não estar apto a caminhar pelo campus sozinho.”
Para fazer com que Gustavo, assim como outros discentes PCD, possam acompanhar a graduação de forma acessível e completa, o NAIA se faz presente da melhor forma para o discente. Assim aconteceu com Gustavo, segundo ele, “Tive alguns empecilhos algumas barreiras que foram surgindo naturalmente, seja por causa da própria deficiência ou por causa do espaço, a dificuldade de andar na unidade 1, por exemplo, ou a locomoção até a unidade 3, em Marabá, que dependia do ônibus. Mas na minha trajetória eu pude contar com monitores do NAIA, bolsistas que auxiliavam desde a parte da locomoção me aguardando no campus e indo comigo de ônibus até a unidade 3, dentro de sala para fazer o acompanhamento das disciplinas, para ler o conteúdo que estava na lousa, fazer anotações, entre outros. Em todos esses aspectos os bolsistas eles essenciais no começo da minha trajetória", explicou.
O estudante conta ainda que, além disso, "o NAIA também me ajudou bastante na questão do auxílio PCD, eles me incluíram e explicaram como eu fazia e como eu ter acesso ao auxílio que ajudou bastante dentro desses período que eu estive na faculdade.” Um dos auxílios que o egresso recebeu foi para a aquisição de equipamentos didáticos, pedagógicos e tecnológicos. Gustavo também compartilha que a tecnologia é uma grande aliada para estudantes de universidade. “Mesmo com a utilização do braile para a leitura, torna-se algo bem difícil já que ele exige muita escrita e muita leitura de conteúdo que às vezes são bens pequenos. Conteúdos que nem sempre são simples, e dentro de sala a gente lida com quantidades imensas de capítulos, de livros complexos, gráficos, fórmulas matemáticas complexas entre outras coisas que o braile, sozinho, acaba por tornar o aprendizado um pouco mais lento.”
Agora, já formado, Gustavo está trabalhando como Analista de Acessibilidade na empresa MTT Data, fazendo análises de acessibilidade de página e aplicativos para algumas empresas. “Com relação à economia, cheguei a me inscrever para fazer o PPG da própria Unifesspa, mas surgiu essa vaga de emprego que foi uma oportunidade imperdível, pelas facilidades e pela modalidade do trabalho remoto com todos os equipamentos fornecidos. Mas eu ainda penso em fazer alguma coisa na área da economia, um mestrado ou uma pós-graduação, justamente porque é uma área que eu também gosto. Tive também professores que sempre me incentivaram, me apoiaram a continuar nessa área. Eu também me vejo trabalhando dentro de algum setor que faz parte da economia, porque eu também acho muito interessante. Inclusive seria isso que eu faria também depois do mestrado ou de uma especialização, no caso, fazer algum concurso ou procurar alguma vaga de emprego em uma empresa e do setor da economia”, afirma o egresso de Ciências Econômicas.
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