Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência: egressa conta como a acessibilidade modificou sua história
Durante sua infância passou por muitas privações devido a superproteção de seus pais, “tinham medo de acontecer algo que me fizesse algum mal”, disse a estudante que só entrou na escola com seis de anos de idade e não era tratada como as outras. “Era como ser invisível”. As aulas da educação básica não foram fáceis devido à falta de preparo e empatia de alguns professores e a complicada interação com a turma. A falta de suporte para as atividades escolares só dificultou ainda mais sua aprendizagem.
Só começou a receber suporte a partir da sexta série, mas como não era constante o apoio foi insuficiente para um bom desenvolvimento e, devido a isso, repetiu de ano algumas vezes e acabou desistindo de estudar. Essa é a história da egressa Katiane Silva dos Santos, que possui baixa visão, e em alusão ao Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência (21/09), compartilhou uma parte da sua trajetória.
A história contada aqui pretende mostrar que apesar dos desafios enfrentados é possível realizar seus sonhos. Acompanhe essa história inspiradora, de muita luta e persistência da recém-formada em Pedagogia pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Katiane Silva dos Santos.
Da educação básica ao ensino superior
A recém-formada em pedagogia conta que no ensino médio teve um acompanhamento mais próximo do atendimento especial, com materiais adaptados e reforços de estudos no contraturno. Desta forma, conseguiu concluir em 2012.
Sem nenhuma orientação e apoio, em 2016 fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e ingressou no ano seguinte na Unifesspa. No primeiro dia de aula, ela conta que já foi direcionada conhecer a sala do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão Acadêmica (Naia) para acessar os apoios oferecidos pela Unifesspa.
Da inclusão da Acessibilidade rumo ao diploma de Pedagogia
No início do curso, a estudante ainda encontrou dificuldades em aderir ao atendimento especializado. Nos primeiros meses de aulas até pensou em desistir por conta da demanda e do ritmo que não conseguia acompanhar. “Quando conheci o Naia pensei que devia ser o mesmo tipo de atendimento ofertado na educação básica: aquele que praticamente separa o aluno com deficiência dos demais, e essa sensação de isolamento eu não gostava”. Ao conhecer melhor todo o suporte ofertado pelo Núcleo, passou a ter um contato mais frequente.
Com esse contato mais frequente, chegou a ser bolsista apoiadora do Naia, ajudando a adaptar materiais acadêmicos para outros estudantes com baixa visão. “Conforme fui conhecendo as atividades, fui adaptando para mim e também para os demais estudantes”, disse ela. Foi apoiadora nos anos de 2019 e 2020 e foi bolsista monitoria em disciplinas do curso além de ter sido bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) em 2021, além de ser muito participativa nos conselhos da faculdade como representante da turma.
Mesmo com apoio do Naia, a dificuldade na universidade surgiu devido à falta de preparo dos professores, não igual antes, mas que persistia. Ouvia muito a frase “esqueci de você”. “Assim como eu, sei que muitos outros alunos com deficiência têm essa dificuldade na questão do ensino, tanto a educação básica e superior: a questão da formação e atuação do docente quando se tem aluno PCD em sala de aula”, disse a pedagoga que utilizou sua trajetória para escrever seu TCC sobre os professores que não têm a formação adequada para lidar com a presença de um aluno com deficiência.
A acessibilidade também trouxe outra grande conquista: a confiança
Para a egressa, na sociedade em geral, a questão da exclusão é mais profunda, podendo até ser mais agressiva, porque as pessoas costumam acreditar que a PcD não é capaz de fazer coisas básicas. “Então, a sociedade costuma ser mais agressiva quando se trata de incluir ou excluir a pessoa com deficiência. Dificilmente a gente é incluído, as pessoas falam com quem está nos acompanhando, em pé do nosso lado, mas não falam com a gente. Por diversas ocasiões, passamos por esse sentimento de exclusão, de dificuldade de participar na sociedade”, relatou Santos.
Sonhadora, a nova pedagoga afirma que sua maior conquista, sem dúvidas, foi concluir o curso e, mais ainda, evoluir como pessoa. “Evoluí bastante como pessoa participativa, eu busco autonomia como pessoa com deficiência. Então essa foi uma grande conquista na minha vida”, contou Katiane. Para o futuro, pretende agora esperar aguardar a seleção do mestrado em educação e ciências e matemática da Unifesspa para continuar ampliando seus estudos.
“A gente precisa o tempo todo ser mais participativo e eu aprendi que devo apresentar a minha autonomia para ser atuante na sociedade. Eu vejo a vida como algo que temos que enfrentar porque nada e nenhum dia é fácil. Sempre procuro focar no que pretendo alcançar como objetivo”, finalizou.
Sobre o Naia
O Núcleo de Acessibilidade e Inclusão Acadêmica (Naia) tem o propósito de contribuir com políticas e práticas institucionais de acessibilidade física, atitudinal e pedagógica de alunos com deficiência, transtorno do espectro autista e altas habilidades/superdotação no esforço de minimizar as barreiras que obstaculizam o acesso a espaços, conhecimentos, bens culturais e interações sociais no ambiente universitário.
Gerar Acessibilidade por meio de materiais didáticos em diferentes formatos: braile, adaptação para leitor de tela (dosvox e NVDA), fonte ampliada, material em 3D, entre outros; serviço de apoiador: bolsista atua como ledor, escriba, audiodescritor e no apoio à mobilidade, de acordo com a necessidade do aluno; tutoria Pedagógica: bolsistas auxiliam discentes com deficiência no processo de ensino-aprendizagem em atividades curriculares em que apresentam dificuldades.
Também está incluso a tradução e interpretação em libras: tradução de editais de seleção da graduação, pós-graduação e de concurso público para servidores da Unifesspa; espaços formativos: oferta de cursos básico, intermediário e avançado de Libras; auxílios financeiros: concessão de auxílio para alunos com deficiência em situação de vulnerabilidade social destinado à aquisição de materiais didáticos, pedagógicos e de tecnologia assistiva.
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