"Sertão, sertões e outras ficções": Docente do IEX lança livro sobre a narrativa sertaneja
De família originária do Sertão, o cearense J. H. Romero cresceu ouvindo os versos de Patativa do Assaré e a música dos trovadores e de Luiz Gonzaga. Ao ingressar no curso do ensino superior, o hoje ensaísta e professor da Universidade do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), campus São Félix do Xingu, decidiu se aprofundar nas narrativas sobre a região.
O estudo resultou em uma tese de doutorado, defendida em 2015. Desde então, a densa análise foi transformada em ensaios, que deram origem ao livro Sertão, sertões e outras ficções – Ensaios sobre a identidade narrativa sertaneja. O lançamento da obra, com o selo Cepe Editora, ocorre nesta sexta-feira (28), em Fortaleza, e no mês de novembro, em São Félix do Xingu (PA).
A publicação conta com 13 capítulos. Neles, o autor parte de citações de Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, ao termo “Sertão” e percorre narrativas de viajantes, romancistas e historiadores. “Foram cinco anos de pesquisa”, resume ele, que se dedicou às representações do Sertão na história e na literatura brasileira.
“Eu fui pesquisar desde mapas do período colonial. Pesquisei literatura de cordel, trabalhei com a literatura de Guimarães Rosa, com Os Sertões de Euclides da Cunha, também com a poesia de Patativa do Assaré, com José de Alencar, com (Alfredo d'Escragnolle) Taunay”, conta.
A cartografia apresentada pelo livro evolui de representações geográficas com animais monstruosos, no século XVI, para figuras que destacam acidentes geográficos, nomes de etnias indígenas e uma imensidão territorial vazia, no século XVIII. De acordo com o autor, o vazio sertanejo pressupunha a ação colonizadora, que ganhou força com as expedições dos bandeirantes para explorar o interior do Brasil, então colônia portuguesa.
J. H. Romero afirma que Euclides da Cunha foi quem descreveu com maior maestria o fenômeno da seca, sua fisionomia e seu impacto na vida sertaneja. O autor diz que as imagens do Sertão do período colonial eram repletas de simbolismo e traziam à tona a relação entre civilização e barbárie e que, no século XIX, a região continuaria a ser um espaço de tensão entre tais representações. A obra de Euclides, segundo ele, é o ponto máximo da “convergência de discursos que reelabora ‘o espaço simbólico’ do Sertão e sua relação com formas específicas de organização das civilizações”. Entenda-se por tais organizações, o Estado-Nação e a consolidação da República.
Nos ensaios, J. H. Romero analisa ainda os tipos sociais do Sertão, como o vaqueiro e o cangaceiro. Este, corporificado na figura de Lampião e apresentado pelos autores da literatura de cordel como herói, cavaleiro. Mas a ideia do que seja o Sertão se modifica, especialmente no campo da literatura, na qual se destaca a obra de Guimarães Rosa. Nesta, o ensaísta frisa que a ênfase é dada nas ações humanas e não no espaço regional, na paisagem preponderante, no “poder do lugar”.
Sobre o autor
Jorge Henrique Romero é escritor, ensaísta e professor de estudos literários da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). Nascido em Fortaleza, em 1980, ele também é autor dos livros Tempo de manga (poesia), Estúrdio (contos), Tão estranha, tão ínitima (teatro), As formas da inspiração (ensaios) e Quanto dura a eternidade (romance, em fase de impressão).
*Com informações de Jailson da Paz/Cepa Editora
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