Exposição HERBARIUM: Estudantes do curso de Artes Visuais fazem curadoria com as obras de Walney Oliveira
Nesta terça-feira (24), ocorreu a abertura da exposição HERBARIUM na Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM). Uma dupla de estudantes do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) preparou uma exposição para celebrar o Nanquim Amazônico, com obras do artista Walney Oliveira, que tem a singularidade de utilizar folhas de árvores como tela.
A curadoria foi assinada pelas discentes Fiama Rodrigues e Rafaela Cardozo, sob a supervisão e orientação do prof. Dr. Armando Queiroz, para a finalização do processo de pesquisa da disciplina de Estágio de Mediação Cultural IV. A visitação está aberta de forma gratuita até o dia 4 de novembro, de segunda a sexta, das 8h às 14h.
As obras utilizadas na exposição pertencem à Pinacoteca Pedro Morbach da Casa da Cultura e também do acervo pessoal do artista. Um dos principais objetivos da mostra é repassar as técnicas utilizadas por Walney, a herborização artística – procedimentos de prensagem, secagem e preparação de um exemplar botânico e também visa valorizar a produção artística local e agregar interesse para que cada vez mais a técnica do Nanquim Amazônico e seus desdobramentos seja conhecido. Na abertura da exposição, esteve presente a presidente da instituição Vanda Américo e a visita da escola Oneide de Souza Tavares e a presença do autor das obras e sua família.
As curadoras Fiama e Rafaela contaram que escolheram cumprir o estágio na fundação e lá tiveram acesso a obras de vários artistas, mas o acervo de Walney chamou a atenção por ele utilizar folhas de árvores locais para produzir o nanquim e assim prosseguindo com a cultura iniciada em Marabá por Augusto e Pedro Morbach. Outro aspecto importante para as discentes é o simbolismo da fauna e flora amazônica representada nas obras.
Para Fiama, a escolha de trabalhar com o acervo de Walney vem de uma conexão com sua vida artística pessoal. “Eu tenho uma conexão muito emocional porque eu gosto muito de trabalhar com as plantas, é uma coisa que me ganha muito, a visualidade das plantas, o recorte. Tem umas folhas que são interessantes que ele usa que eu gosto, como o formato da folha Cróton que eu gosto muito e geralmente, a gente na correria do dia a dia não dá muita atenção às folhas de árvores que fazem sombra, que fazem todo o processo de vida da planta, que também nos dá oxigênio e quando ele traz isso nas obras é uma coisa que chama muito a minha atenção e eu gosto bastante”, declarou a curadora.
Para preparar a exposição e aprofundar a pesquisa sobre as obras, as curadoras conseguiram contato com o artista por meio de um antigo grupo de artista que colaboravam entre si. Assim, um encontro foi feito e isso ajudou na produção da pesquisa e construção do material digital com todas as obras e mais sobre a vida do artista. Este conteúdo produzido por elas e pode ser utilizado para futuras pesquisas ou como material didático.
Na entrevista, Walney citou como referência os Morbach, que a partir deles ele criou seu formato e estilo de desenho. O contato entre os artistas foi importante, pois mais obras do acervo pessoal de Walney foram adicionadas à exposição. Para Rafaela é importante fazer esse espaço para o resgate dessa técnica artística que iniciou em Marabá há muito tempo. “Faz parte do histórico de arte aqui na nossa cidade, então fazer esse resgate, essa preservação e valorização dos artistas que ainda estão fazendo é muito importante porque isso enriquece nosso processo artístico porque às vezes pra gente conseguir fazer os avanços, as mudanças, fazer novos movimentos e técnicas a gente também tem segue a referências antigas. Como marabaense, é muito importante pra mim ver outros trabalhos de pessoas que fizeram antes de mim aqui na cidade’’, revelou a estudante de Artes Visuais. Devido a todos esses detalhes, a exposição foi criada para tornar as obras mais acessíveis à comunidade.
O autor - As obras que estão no acervo da Pinacoteca da Casa da Cultura começaram a ser produzidas em 1998, quando Walney trabalhava na instituição. Então, a partir desse ano ele passou a se aprimorar sua técnica e a coletar e catalogar o material utilizado. A identificação das folhas era feita com o auxílio do biólogo e então presidente da Fundação casa da Cultura de Marabá, Noé von Atzingen, que fazia identificação da espécie de folha. Após o registro feito por Walney elas iriam para a etapa desinfecção na estufa, um processo primordial para identificar se a folha seria uma “tela” adequada para pintar.
Após todo esse processo, o artista escolhia uma temática para desenhar, de acordo com o formato da folha. Noé viu o trabalho de Walney e então pediu para que ele fizesse uma coletânea e assim montaram a primeira exposição naquele mesmo ano, na fundação. Com esses trabalhos Walney ganhou um prêmio do Instituto de Arte do Pará, uma bolsa de para custear suas pesquisas das folhas.
Atualmente Walney trabalha como bombeiro civil, mas continua produzindo até hoje numa escala mais reduzida, trabalhando com outros materiais, mas ainda continua ativo e produzindo intercalando materiais, mas sempre na mesma temática, a natureza e os elementos amazônicos. Ele diz que ficou surpreso em receber a notícia que as alunas iriam expor suas obras já que parou de expor há um tempo. “Eu produzo para mim em casa até hoje, eu desenho muito, mas eu desenho para minha coleção mesmo, só que quando elas falaram que estavam fazendo um trabalho, fiquei lisonjeado, fiquei muito feliz com isso, até porque resgata um pouco, não só da história do projeto mas da cultura de Marabá mesmo, porque hoje a gente não ouve falar em exposição”, disse o artista.
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