Resultado de experimentação artística-cultural, instalação temporária "Banquete" busca refletir a fome sob diferentes aspectos
Na última segunda-feira (13), teve início a instalação artística temporária “Banquete”, do duo Mariposas, formado pelas discentes Alana Silva e Fiama Rodrigues. A performance ocorreu no espaço do Tapiri do Campus I e a montagem teve supervisão do prof. Armando Queiroz (FAV). Fiama Rodrigues é estudante do curso de Licenciatura em Artes Visuais da Unifesspa, e foi uma das contempladas no Edital de Auxílio a Experimentações Artístico-Culturais da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis (Proex), em outubro de 2022.
O edital ofertou vinte cotas de auxílio, no valor de R$ 2 mil, para discentes de graduação da Unifesspa que realizarem experimentações em uma das linguagens artísticas previstas (artes visuais, audiovisual, dança, literatura, música e teatro), no período de janeiro a maio de 2023. “Banquete” é um trabalho desenvolvido como experimentação proporcionada por este edital.
“Uma instalação temporária consiste em ter uma cena ou um ato performático, que traz elementos organizados durante a performance para que o público possa interagir também”, explica Fiama. A instalação “Banquete” é composta por duas mesas, uma no formato de banquete e outra menor individual, onde o público pode interagir com a performance. De acordo com a artista, a ideia é levar a instalação para outros espaços.
A artista detalha, ainda, que o tema principal do trabalho é a fome. “Nessa cena, trazemos elementos que trabalham este tema em diferentes sentidos para além do fisiológico. Assim, buscam refletir sobre a fome intelectual, espiritual, social e também os reflexos do que é se alimentar, do que está sendo servido e de como esse sistema de produzir comida funciona”, afirma. A instalação utiliza como referência recortes da obra Quarto de despejo: Diário de uma favelada”, da escritora Carolina de Jesus, com a reprodução de áudios para cativar mais ainda reflexões sobre essa questão.
Sobre a inspiração artística, Fiama relata que surge de um contexto das artistas. “Enquanto duas mulheres negras e artistas, somos frequentemente atravessadas por muitas questões. Entre elas, o que é ser mulher numa sociedade patriarcal, machista e racista, onde há muita dificuldade de acesso a serviços básicos, como saúde e boa alimentação. Por isso, achamos pertinente trazer essas questões para dentro do nosso trabalho. E o banquete surge nessa perspectiva”.
Incentivo às práticas artísticas na universidade - A primeira edição do Edital de Auxílio a Experimentações Artístico-Culturais foi implementada em 2021, aberta a estudantes-artistas vinculados a qualquer curso de graduação da Unifesspa, nas seis linguagens artísticas. É um edital destinado, prioritariamente, a estudantes em situação de vulnerabilidade econômica, mensurada a partir de critérios objetivos estipulados pela legislação federal do PNAES.
O edital foi uma maneira da Proex dar continuidade às políticas culturais de estímulo da Universidade às artes e aos artistas da comunidade acadêmica, em um momento de retração do orçamento institucional. Nas duas edições do edital, houve o estabelecimento de cotas para estudantes indígenas, quilombolas, negros e PCDs. Além disso, houve participação significativa de estudantes dos campi fora de sede, sempre figurando entre os contemplados, o que contribui para a descentralização dos recursos e das políticas institucionais.
“O edital tem sido uma ferramenta importante para dar continuidade às políticas de cultura da Unifesspa. Entretanto, é necessário pensá-lo em suas limitações. Nos próximos anos, é imprescindível que essa política seja mantida e ampliada, com a destinação de recursos financeiros proporcionais ao tamanho da comunidade acadêmica da Unifesspa”, explica o chefe do Setor de Apoio a Ações Culturais (SEAAC/Proex), prof. Gil Costa.
Ainda de acordo com o professor, também é necessário que a política institucional de estímulo às artes não se restrinja a um Edital de Auxílio a discentes em vulnerabilidade econômica, mas seja complementada por outras ações, como a reedição de Editais de financiamento de projetos culturais da comunidade acadêmica em geral, garantindo que ações consistentes de formação, produção e difusão artísticas possam ocorrer.
“É necessário pensarmos nos "direitos culturais" que a comunidade regional possui, em geral negligenciados nas políticas do Estado brasileiro, centralizadas nas capitais e na região Sudeste do país. As universidades federais podem e devem ser entendidas também como instituições culturais, responsáveis pela implementação desse tipo de política pública e garantia de direitos”, finaliza.
Fotos: Gil Costa
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