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Com presença de povos e lideranças indígenas, livro "Racismo linguístico e os indígenas Gavião na universidade" é lançado em Marabá

  • Publicado: Sexta, 17 de Fevereiro de 2023, 17h03
  • Última atualização em Quinta, 23 de Fevereiro de 2023, 11h45
  • Acessos: 949

joprameNa tarde desta quinta-feira (16), ocorreu no auditório da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) o lançamento do livro “Racismo linguístico e os indígenas Gavião na universidade: língua como linha de força do dispositivo colonial”. A obra é fruto da tese de doutorado da  pesquisadora Flávia Marinho Lisbôa, docente da Faculdade de Educação do Campo (Fecampo) da Unifesspa. O momento foi oportunidade para um debate sobre racismo e preconceito linguístico e contou com a presença das lideranças indígenas Kátia Akrãtikatêjê, Zeca Gavião Kyikatêjê e Jopramre Parkatêjê.

O livro é resultado do projeto pesquisado junto com os povos Gavião dos três dos primeiros grupos que vivem hoje na terra indígena Mãe Maria: Parkatêjê, Kyikatêjê e Akrãtikatêjê. A partir desses três grupos, foi feito um diálogo  para conhecer dificuldades de acesso e permanência à universidade, sendo este um acontecimento recente na história do país. “A curiosidade em saber como seria essa vivência, essa existência indígena dentro da universidade e quais as as implicações étnicas, cosmológicas, conflitos, nesse encontro entre os mundos indígenas e o mundo ocidental, foi o que moveu a pesquisa”, declarou a autora. 

No livro, Flávia escreve sobre a realidade de estudantes indígenas dentro da Unifesspa, com base em pesquisas de campo realizadas. Por meio de relatos, a pesquisadora apresenta situações que alguns alunos sofreram ou estão sujeitos a passar dentro da universidade. Os problemas percorrem desde a comunicação, racismo e falta de conhecimento da realidade dos estudantes. Nesse sentido, o livro propõe imaginar as dificuldades dos povos indígenas.

IMG 7699A obra traz temas como: colonização, colonialidade, epistemicidio, glotocidio (assassinato da língua),interculturalidade, línguas e cosmologia e políticas linguísticas. Segundo a professora, a universidade sempre teve como base o conhecimento eurocêntrico e a presença de povos indígenas implica o reconhecimento da sabedoria desses povos. "As universidades deveriam, obrigatoriamente, propor debates interculturais para a manutenção do modo de vida deles e não uma imposição do modo de vida branco. Proteger as línguas indígenas do racismo linguístico é uma forma de manutenção do modo de vida", afirma. 

A pesquisa de Flávia também traz reflexões para pensar em soluções para a permanência de alunos indígenas. Ela aborda uma questão chamada de “Desterritorialização x Reterritorialização”, que é ato do indígena sair do território onde vive e tem um modo de vida diferente, desde a forma de lidar com tempo a lidar com pessoas, para ir a um território desconhecido: a universidade. Ajudar o aluno a lidar com as diferenças do lugar também é uma ação para a permanência dele. A comunicação é outro ponto importante, seja ela de aluno com aluno ou aluno e professor. Esta última costuma ser a mais problemática, pois o professor avalia o aluno por trabalhos e atividades feitos na língua portuguesa padrão, que é de uma origem colonial e a única aceita. 

IMG 7719“A presença desses alunos vai trazer provocações para esse espaço que foi secularmente branco e monocromático. Nós estamos aqui pra colorir esses espaços que são espaços coloniais e eurocêntricos. A nossa presença vem trazer essas outras possibilidades do ser acadêmico ou outras possibilidades de existir dentro desse espaço”, acrescenta Lisbôa. 

A pesquisa conseguiu sistematizar as dificuldades de permanência dos alunos, não apenas Gavião mas também de outras etnias. “Algumas questões são mais intensas que outras. Um exemplo disso é a questão da língua. Como a tese é da área de linguística, a tônica da discussão desemboca na língua. E todas essas dificuldades que a gente conseguiu sistematizar de permanência desembocam na língua, seja na dificuldade do aluno de apresentar um seminário, de acessar o Sigaa, etc”.

Jopramre Parkatêjê falou sobre a importância de falar da diversidade que a língua das indígenas e incentivar os jovens a aprender sua língua materna ou mais quantas línguas puderem. “Assim a gente consegue revitalizar a nossa língua” declarou. “O povo Gavião segura a língua através dos cantos, você cantar é uma maneira de você assegurar a sua língua também, assegurar a forma que você fala”, disse Jopramre. O canto ajuda a levar a forma correta de falar a língua através do tempo.  

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