Discente da 1ª turma do curso de Engenharia Florestal de São Félix do Xingu é aprovada em mestrado na UFV
A discente Elaine Carvalho, do Instituto de Estudos do Xingu (IEX) da Unifesspa, em São Félix do Xingu, foi recentemente aprovada para o curso de mestrado em Entomologia, da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Elaine é discente da 1ª turma do curso de Engenharia Florestal, vinculado à Faculdade de Ciências Agrárias do IEX.
A aprovação foi comemorada pela comunidade acadêmica do curso de Engenharia Florestal, que neste semestre formará a sua primeira turma a nível de bacharelado. Com isso, o curso, que iniciou as suas atividades de ensino, pesquisa e extensão em 2019, se solidifica em direção à formação de profissionais qualificados.
A aprovação no mestrado resulta do envolvimento da discente nas atividades de ensino, pesquisa e extensão durante toda a graduação em Engenharia Florestal, aliada às suas características particulares, como motivação, competência e, sobretudo, independência em relação à pesquisa.
A partir da relação com a sua orientadora, a professora Dra. Edna Santos, coordenadora do projeto “Entomofauna associada a sistemas agroflorestais”, do qual resultou o trabalho de conclusão de curso da discente e o consequente êxito adstrito ao ingresso no mestrado. A sua proposta de continuidade da pesquisa na pós-graduação também se inspira na trajetória precedente, com enfoque ainda na Entomologia e na valorização do município de São Félix do Xingu como um espaço de pesquisa privilegiado.
Habituada a enfrentar os desafios impostos pela vida no interior da Amazônia, Elaine não mediu esforços para conduzir seus trabalhos de campo na propriedade de um agricultor familiar situada na margem esquerda do rio Xingu, o que exigiu um frequente ir e vir de barco ou balsa, quando havia necessidade de realizar as coletas em campo.
Os resultados da sua pesquisa também foram discutidos e partilhados com o agricultor, de modo que ele próprio pudesse acompanhar o processo e a sua tradução, para, enfim, difundir junto à comunidade os problemas e soluções apontados. Desta maneira, Elaine chega ao mestrado enriquecida com um conjunto de experiências de campo, laboratório e sabendo construir e manejar a relação universidade e agentes externos.
“As pesquisas com cacaueiros na Amazônia estão muito vinculadas aos sistemas agroflorestais biodiversos. Porém, nos últimos anos, o cultivo de cacau clonal cultivado como monocultura tem se expandido em toda a região e pouco se sabe a respeito da incidência de insetos nessas áreas”, afirma a professora Edna, que tem se dedicado a pesquisar o tema na região. Ainda segundo a pesquisadora, conhecer a abundância e diversidade de insetos nesses agroecossistemas é primordial para o manejo dos plantios de cacaueiros na região Sul do Pará.
Sob a responsabilidade da docente, juntamente com a equipe e parceiros, Elaine desenvolveu a pesquisa em campo e em laboratório. Para a identificação dos insetos foram feitas parcerias com o taxonomista Lourival Dias Campos, professor da Universidade Federal Rural da Amazônia, Campus Capanema. A parceria com o professor Lourival garantiu confiança e efetividade na identificação das espécies.
Além da Elaine, participaram da pesquisa que originou o seu trabalho de conclusão de curso, Bruno Soares da Silva, Iana Vitória Oliveira da Silva do curso de Engenharia Florestal e Batì Kayapo, do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. Batì, nesse processo de pesquisa e formação está contribuindo bastante para a construção de um vocabulário bilíngue Português-Mebêngôkre a respeito dos insetos, o que sinaliza uma dimensão intercultural do estudo.
O princípio de formação como processo coletivo animou bastante a discente que, conforme relatou, foi também decisivo para a sua aprovação no mestrado. “Trabalho com entomologia e com iniciação científica desde 2020 e foi uma área que me identifiquei e me apaixonei de cara, então decidi que ia seguir nessa área e com o passar da pesquisa outras pessoas se uniram a essa paixão por bichinhos e vi que ao ensinar e auxiliar meus colegas calouros eu queria seguir pesquisando”, ressalta Elaine.
Ainda segundo ela, “a pesquisa em si abriu as portas e oportunidades para mim e para outros alunos na universidade e a entomologia me trouxe uma visão diferente do meio ambiente e das diversas interações que ocorrem nele”, frisou. Além dos desafios diários, contou com incentivos diversos, fazendo com que a sua conquista soasse como uma alegria coletiva, muito mais do que algo apenas particular ou individual.
“Com empurrão daqui e dali e com auxílio dos professores e encorajamento da minha família tentei um mestrado em uma das maiores universidades do País e consegui passar. Foi uma vitória pra mim e pra quem me apoiou, sendo eu uma mulher negra filha de mãe solteira vencendo pela educação”, finaliza.
Em comunicado, “a Faculdade de Ciências Agrárias (FCA) celebra este momento festivo com a discente Elaine e lhe parabeniza imensamente. Nesse sentido, a FCA afirma o seu compromisso com o desenvolvimento local, ao acolher estudantes da região e de outros espaços amazônicos e não amazônicos a fim de possibilitar-lhes a oferta do ensino público e gratuito”.
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