Queimadas ameaçam a saúde dos povos indígenas nos arredores dos campi da Unifesspa
Com a Amazônia assolada por uma seca extrema e a explosão do número de queimadas em julho, a situação se agravou ainda mais ao longo do mês de agosto que, até o dia 27, tinha registrados 28.697 focos de queimadas. Segundo relatório do Monitor do Fogo, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e da rede MapBiomas, a área de floresta nativa queimada na Amazônia aumentou 132% em agosto de 2024 em relação ao mesmo mês de 2023. O valor representa um aumento de 83% em comparação ao mesmo período em 2023 e 38% acima da média dos 10 anos anteriores (2014 a 2023), de acordo com os dados são do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Na região Norte, 80% das queimadas concentraram nos estados do Pará (36%), Amazonas (29%) e Mato Grosso (16%). No sudeste paraense, os moradores de Marabá vêm enfrentando uma série de problemas de saúde, devido ao aumento de queimadas urbanas na cidade, mas, são os Territórios Indígenas que mais vem sofrendo com as queimadas este ano.
As TI Munduruku e TI Kayapó sofreram muito com a estiagem na região de São Félix do Xingu, responsável por mais de 20% dos focos de incêndio registrados no estado nos primeiros dias de setembro. Com 1.819 focos de incêndio entre os dias 1º e 7 de setembro, São Félix do Xingu, foi a cidade com mais pontos de fogo ativos no Brasil, segundo dados do programa BDQueimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
O município de São Félix do Xingu, voltou a ser foi destaque negativo na última quarta-feira, 25 de setembro, ao ser classificado entre as dez cidades brasileiras com a pior qualidade do ar, de acordo com a plataforma Índice Mundial de Qualidade do Ar, que monitora em tempo real as condições atmosféricas ao redor do mundo, a cidade alcançou a 8ª posição no ranking nacional por volta das 12h (horário de Brasília).
A situação não foi menos grave no Território Indígena Mãe Maria, em Bom Jesus do Tocantins, há oito quilômetros da Unifesspa que, há mais de um mês, vem sendo destruída por um incêndio que já devastou 10% da floresta. Em auxílio aos indígenas, o Estado enviou uma aeronave, um caminhão-pipa, caminhonetes e outros veículos de apoio, além de 28 bombeiros militares, equipamentos e materiais para enfrentar o incêndio que vem destruindo a floresta. A Secretaria de Estado dos Povos Indígenas (Sepi) acompanhou os trabalhos nas áreas incendiadas, garantindo apoio aos indígenas atingidos. Em entrevista ao G1, a assessora Etno-regional da Sepi, Regilanne Guajajara, egressa do curso de psicologia da Unifesspa, informou que a Secretaria acompanhou a situação de perto, buscando verificar quais as principais necessidades no momento.
Representantes da Unifesspa, Uepa, IFPA são recebidos pelas lideranças indígenas do povo Gavião no Território Indígena Mãe Maria
O incêndio no território indígena Mãe Maria, que impactou a vida do povo Gavião nos últimos meses, foi o foco central de um encontro que reuniu Francisco Ribeiro da Costa, Reitor da Unifesspa, e representantes das instituições de ensino de referência da região, como, Everaldo Afonso Fernandes, do IFPA INDUSTRIAL Marabá e Maria Suely Ferreira, Gomes, do IFPA Rural, Danielle Rodrigues da Costa, da Universidade Estadual do Pará(UEPA), Sérgio Custódia(IFPA-Rural) e as lideranças da TI Mãe Maria, entre eles, o Cacique Zeca Gavião, Cacica Kátia Silene e Concita sompre além de oficiais do corpo de bombeiro e outros professores e pesquisadores das instituiçõe acima mencionadas..
As dificuldades enfrentadas pela comunidade, como a falta de monitoramento, equipamentos inadequados e a escassez de recursos humanos para combater os incêndios estiveram na pauta. Segundo as lideranças, as queimadas afetaram extensas áreas do território, comprometendo a colheita de castanhas e outras espécies frutíferas, além de provocar danos aos açaizais. A queima massiva de biomassa também liberou grandes quantidades de carbono, levantando questões sobre seu impacto nas políticas de crédito de carbono. Os indígenas expressaram preocupação com os danos irreparáveis à floresta, em especial às castanheiras, essenciais para sua subsistência e cultura. A preocupação com o impacto psicológico nas crianças, que estão afastadas das escolas devido às responsabilidades impostas pela crise, esteve entre os temas abordados.
Segundo o Cacique Zaca Gavião, houve um esforço grande para obter apoio na implementação de monitoramento e brigadas de combate ao fogo, mas muitas foram as dificuldades internas e externas. O cacique destacou também que a comunidade teve que agir por conta própria, tentando formar brigadistas indígenas, porém, sem o suporte necessário. A falta de consenso entre as aldeias e o apoio insuficiente das instituições responsáveis foram determinantes para o agravamento o da situação.
Diante de todo o relato, as instituições se comprometeram a oferecer suporte técnico e científico para a recuperação da área afetada. A Unifesspa se propôs a colaborar na elaboração de um inventário das espécies perdidas, contribuindo para futuros projetos de reflorestamento. Na prática, uma ação onde os estudantes indígenas agiriam nas ações de recuperação e monitoramento, visando integrar conhecimentos técnicos e tradicionais. O professor Francisco, propôs a flexibilização do calendário acadêmico dos estudantes indígenas, além de promover ações de ensino, pesquisa e extensão para apoiar a elaboração de um inventário florestal e outras iniciativas necessárias.
A diretora da UEPA, Danielle Rodrigues da Costa, sugeriu ações para arrecadar alimentos e itens de higiene pessoal e a diretora do Instituto Federal, campus Rural, Professora Suely propôs fazer interlocução junto ao IBAMA para adquirir equipamentos apreendidos como motoserras, sopradores entre outros materiais que forem necessários para o combate a incêndios.
Entre as muitas sugestões que surgiram, estava a formação de brigadas permanentes compostas por membros da comunidade Gavião, treinados e equipados adequadamente, para garantir a preservação contínua do território. Apesar de gostarem da ideia, as lideranças indígenas enfatizaram a necessidade de um apoio institucional mais eficaz e aproveitaram para deixar claro, a frustração que enfrentaram com a falta de atenção das autoridades federais e estaduais ao longo do tempo. E que, apesar das tentativas de diálogo, enfrentaram a ausência de políticas eficazes de prevenção e pouquíssimos investimentos em infraestrutura para monitoramento, o que deixou o território vulnerável aos incêndios.
Entre as muitas urgências, estão a necessidade de formação de uma força-tarefa para lidar com a situação foi proposta, incluindo a aquisição de equipamentos como motosserras e tratores. O envolvimento de instituições no inventário florestal e na organização da produção de mudas para reflorestamento foi considerado crucial. A urgência por equipamentos de segurança e treinamento para brigadistas foi mencionada, assim como o impacto emocional e psicológico nos jovens. Neste caso, as universidades e o Instituto Federal poderiam ajudar a articular demandas junto ao governo e contribuir na criação de estratégias para recuperação e prevenção.
O sargento Irineu Silva, do Corpo de Bombeiros do Estado do Pará, também presente na reunião, relatou como a palheira influencia significativamente nas queimadas, pois ela age como combustível, facilitando a propagação do fogo. Em relação ao combate do fogo no território, ele mostrou a logística das ações implementadas durante todo esse período em que a floresta pega fogo. “Quando há muita palheira, como palmeiras secas, o fogo se espalha rapidamente, tornando difícil o controle, mesmo com a criação de aceiros (faixas sem vegetação). Em áreas sem palmeiras, um aceiro pequeno de 40 cm pode conter o fogo, mas em áreas com muita palheira, ele não é suficiente”, reforçou. Além disso, segundo Silva, o risco de incêndios é maior perto de aldeias e pastagens, onde a conscientização da população sobre práticas seguras de queimadas é essencial para evitar grandes incêndio”
Para prevenir e auxiliar no combate a incêndios florestais e desmatamento ilegal, no Pará, o Governo do Estado lançou, em maio, a 6ª Edição da Operação Fênix. O lançamento da Operação representa o efetivo deslocamento dos militares para o reforço de combate a incêndio florestal. A operação tem uma grande importância no combate a incêndios no Brasil, suas edições passadas contribuíram com excelência para a proteção das florestas na Amazônia Legal e contou com parceria a Força Nacional de Segurança Pública, Exército Brasileiro entre outras entidades nacionais, além do apoio a outros Estados no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Por fim, os participantes discutiram a urgência de equipar as comunidades com motosserras, tratores e brigadas especializadas, além de fornecer água e alimentos devido à seca em rios próximos.
Os últimos remanescentes florestais mais próximos estão a mais de 100 km de marabá e da TI Mãe Maria, como mostra a imagem de satélite, abaixo:
1 - TI Mãe maria - TI Parakanã - 140 km
2 - TI Mãe Maria - TI Sororó - 100 km
3 - TI Mãe Maria - Flora de Carajás 160 km
Sobre a gravidade da situação, Ribeiro enfatizou: "Se observarmos as imagens de satélite, podemos ver o estado crítico das florestas ao redor de Marabá. A Terra Indígena Mãe Maria representa o último remanescente florestal dentro de um raio de 100 km, a área florestal mais próxima é a TI Sororó. Infelizmente, essa área sofreu com incêndios que destruíram quase 10 mil hectares, deixando um rastro de devastação. A recuperação desse ecossistema levará muitos anos, e a perda ambiental é incalculável. Isso reforça a urgência de ações efetivas para proteger o que resta dessas áreas e apoiar as comunidades que dependem diretamente delas para sua sobrevivência."
O encontro foi visto pelo grupo, como uma oportunidade para fortalecer parcerias e buscar soluções conjuntas para proteger o território Gavião e recuperar a biodiversidade local. Por fim, a importância da cooperação interinstitucional reunindo o potencial das universidades e institutos federais em fornecer apoio logístico e acadêmico para enfrentar os desafios impostos pelos incêndios florestais.
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