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Coluna #ComCiência: o Natal para além do consumo

  • Publicado: Sexta, 13 de Dezembro de 2024, 11h21
  • Última atualização em Sexta, 13 de Dezembro de 2024, 11h21
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A aproximação do Natal causa certa euforia social pelas culminâncias que os festejos e o período em si marcam. Final de ano, comemorações, família reunida, viagens, reencontros e mesas fartas, isso num cenário mais ou menos idealizado. Em seu fundamento, a celebração religiosa do nascimento do messias cristão, que é bem controversa, consegue proporcionar meneios globais bem simbólicos.

Em torno de toda essa movimentação, o entusiasmo principal é nos mercados, deixando empresários e comerciantes sempre com muitas expectativas. Preparação antecipada de estoques, planejamento de contratações, inovações para atrair os diversos públicos, decorações e cores festivas características, entre muitas outras medidas que se sofisticam a cada ano. Ofertas e promoções de muitos tipos que levam os mais compulsivos até mesmo a exagerar, endividando-se.

Esse sentido consumista que tomou de conta do período, gera muitos debates, inclusive sobre a figura do Papai Noel e do pinheiro natalício, como bem discutiu o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, em seu texto o Suplício do Papai Noel, que explica o trânsito cultural e a transformação das figuras que foram colocadas em lugar de destaque, em detrimento a outros símbolos religiosos, como os presépios. É evidente a mudança e a adaptação de sentidos e as práticas em torno da data, restando explícito que o feriado se torna cada vez mais um ápice de consumo exagerado.

Em Marabá, diversos estudos já vêm mostrando como a cidade tem passado por mudanças nos seus hábitos e formas de consumo, inclusive de alimentos. Mesmo antes do início de nossa década, o desenvolvimento regional aqui experimentado com o avanço da mineração, da pecuária bovina e de outros setores ligados ao agronegócio, colocou o munícipio em um circuito de internacionalização da economia, com o avanço das culturas de exportação em detrimento à produção de alimentos. O crescimento das redes de supermercados e mercados médios que comercializam principalmente os ultraprocessados é indicativo dessas mudanças em nossa cidade.

Mas além desses maiores, há também, no município, espaços alternativos ou tradicionais, como as feiras livres, muitas delas acontecendo nos locais de feiras permanentes, como na Folha 28, no bairro Laranjeiras, Folha 11, rua 7 de Junho na Marabá Pioneira, entre outras, especialmente aos finais de semana, quando os agricultores familiares da região, geralmente oriundos de assentamentos rurais, deixam suas atividades produtivas para virem comercializar na cidade.

Eles também se preparam para atender uma clientela maior no período natalino, intensificando a produção de aves, frutas (que coincide com o período intermediário de chuvas) e verduras. Além disso, há também o artesanato local, que pode ser encontrado ou demandado por encomenda nas feiras. Essa é uma parte que ainda precisa de mais incentivo público e da sociedade para a valorização e o aumento na produção e no consumo.

Com a chegada do Natal, espera-se mesas fartas e com alimentação saudável, muita alegria e festejos. É uma grande oportunidade de reunião com a família, fazer coisas juntos, assistir, jogar com cartas, tabuleiros ou eletrônicos, em que podemos buscar atividades que provoquem pouco impacto ambiental. No que diz respeito aos presentes, que tal buscar aqueles fabricados com materiais biodegradáveis e de baixo consumo de energia?

E para o momento mais especial, que é a ceia, uma boa pedida é procurar frutos regionais e incrementar os pratos, buscando sempre por alimentos mais saudáveis e in natura ou minimamente processados para a base da refeição, ofertando também frutas e sucos ao invés de refrigerantes e demais bebidas processadas. As frutas secas, que podem ser compradas ou mesmo preparadas em casa, são uma boa opção para reduzir o consumo de doces. Ainda exploramos pouco de todas as possibilidades de nossa riquíssima biodiversidade com cheiros e sabores únicos, tão procurado fora daqui.

Isso vai ajudar a proporcionar, gradualmente, mudanças nos hábitos alimentares e de consumo, fazendo com que olhemos cada vez mais para a nossa produção regional como algo a ser almejado, deixando de sempre desejar aquilo que vem de fora. Que este Natal possa ser emblemático da busca pela vida mais plena, a congregação em família, autoconsciência de nosso espaço no mundo e a união em prol de um mundo mais equilibrado e com justiça social.

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Artigo escrito pelo professor Livio Claudino (IEDAR/Unifessspa)

Originalmente publicado na coluna #ComCiência, do jornal Correio de Carajás, edição nº 4276 - dias 7 a 9 de dezembro de 2024.

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