CORREIO DE CARAJÁS: Candidatos a reitor recebem carta-compromisso de movimentos
Veículo: Correio de Carajás
Data: 14 de maio de 2020
Link da Matéria: https://correiodecarajas.com.br/unifesspa-candidatos-a-reitor-recebem-carta-compromisso-de-movimentos/
A salvaguarda da democracia e da autonomia institucional deve ser pilar norteador da próxima administração da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa). Além disso, o reitor que será eleito no próximo dia 21 precisa fortalecer as ações de extensão com os camponeses, assim como rearticular as de ensino. Outro tópico que deve entrar em discussão é a defesa das carreiras de servidores, técnicos e docentes. Estes são compromissos elencados por 34 entidades e personalidades políticas em uma carta endereçada aos três candidatos à Reitoria da Universidade.
No documento, os movimentos sociais e culturais, sindicatos e organizações políticas da região sustentam que a Unifesspa é uma construção de anos de luta pela emancipação. “Dentre outras instituições, a Unifesspa se tornou elo entre dinâmica e história do Sudeste paraense com o resto da Amazônia, do Brasil e do Mundo”, pondera trecho.
Ainda na carta, as entidades defendem que são as responsáveis por levantar os alicerces pedagógicos da instituição de ensino superior. “Criamos espaços físicos simbólicos para dançarmos nossas danças, cantarmos nossas canções, debatermos nossa cultura cabocla, cabana, indígena e quilombola. Não pedimos licença para ninguém, porque estes espaços são nossos, assim como nossa é a Unifesspa”, enfatiza a carta.
Por fim, é traçada uma lista de oito tópicos com “pautas gerais que nortearão nosso diálogo com a administração superior nos próximos anos”. Os movimentos sociais esperam, com isso, que o próximo gestor esteja aberto a construir os caminhos da Unifesspa de modo conjunto. “Vos dizemos isso, senhores candidatos a reitor, para que saibam que defenderemos sempre nossa Unifesspa de seus algozes que tentam, lá de Brasília, desconstruir anos de formulações pedagógicas”, penhora o documento.
Assinam a carta MST, Levante Popular da Juventude, Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), Coletivo Consciência Negra em Movimento, Sindicato dos Docentes da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (SindUnifesspa), Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado do Pará (Fetraf), Sindicato dos Trabalhadores da Educação do Estado do Pará (Sintepp), Movimento LGBTI Marabá, Associação dos Escritores do Sul e Sudeste Paraense (Aessp), Federação dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares do Estado do Pará (Fetagri) e outros.
LEIA A CARTA-COMPROMISSO NA ÍNTEGRA:
A Unifesspa não surgiu há 6 anos. Nossa Unifesspa foi construída desde os anos de 1980. A necessidade de formação de professores da rede básica na região e a luta dos camponeses para terem terra para plantar e viver deu relevância ao então Campus de Marabá da UFPA. O Massacre de Eldorado dos Carajás (1996) é marco na sua história e o PRONERA fez a nossa universidade se “pintar de povo”. Alguns de seus decanos formaram-se na
primeira turma de licenciatura, suas salas de aula jamais se reduziram a quatro paredes e um quadro negro, seus alunos construíram a educação de nossas escolas públicas. Dentre outras instituições, a Unifesspa se tornou elo entre dinâmica e história do Sudeste paraense com o resto da Amazônia, do Brasil e do Mundo.
Não fomos convidados a entrar na Unifesspa. Nós, enquanto coletivos políticos e culturais, movimentos sociais e populares levantamos os alicerces pedagógico da nossa universidade. A epistemologia da fronteira, que enfrenta despejos, desalojamentos, crimes ambientais, questões de gênero e raciais e que está nas ocupações, germinando sementes e consciências. Essa epistemologia, que só existe na construção do conhecimento valorizando a diversidade de quem está na batalha defendendo a vida da floresta e dos seres humanos. Daqui, experiências de ensino para escolas do campo se tornaram referências em todo o país, foram as formas piloto de políticas públicas. Criamos espaços físicos simbólicos para dançarmos nossas danças, cantarmos nossas canções, debatermos nossa cultura cabocla, cabana, indígena e quilombola. Não pedimos licença para ninguém, porque estes espaços são nossos, assim como nossa é a Unifesspa.
Vos dizemos isso, senhores candidatos a reitor, para que saibam que defenderemos sempre nossa Unifesspa de seus algozes que tentam, lá de Brasília, desconstruir anos de formulações pedagógicas substantivas, em conjunto com uma diversidade epistemológica que não perde para nenhuma experiência secular das universidades europeias, que também busca emancipar o povo de nossa região.
Esta carta compromisso não é para vocês assinarem. É um compromisso nosso pela continuidade da construção necessária de nossa Unifesspa. Sabemos que esta eleição é atípica, recheada de ingerência do Ministério da Educação. Por isso nos comprometemos, nesta conjuntura, a mobilizar nossos coletivos pela participação massiva no processo eleitoral, como forma de dar legitimidade a ele. Mas também alertamos vocês que ou se constrói as ações de ensino, extensão, pesquisa e assistência estudantil com o conjunto da sociedade ou a Unifesspa não se integrará de fato com o Sudeste paraense. Que os burocratas compreendam seu papel intermediário nesta construção.
Apresentamos abaixo as pautas gerais que nortearão nosso diálogo com a administração superior nos próximos anos. Esperamos que a reitoria esteja aberta para esta construção conjunta.
1 — Defesa da democracia e da autonomia institucional. As decisões devem contar com a participação da comunidade acadêmica;
2 — Fortalecimento das ações de extensão com os camponeses, escolas públicas do campo e da cidade, objetivando o desenvolvimento técnico e socioeconômico dos territórios dos trabalhadores;
3 — Rearticulação das ações de ensino da Universidade para além do lançamento de editais. Que se estabeleçam fóruns de discussão que de fato aproximem os cursos de graduação da Unifesspa à realidade regional;
4 — Estabelecimento de mecanismos de promoção da pesquisa de excelência sem, entretanto, reduzi-la a batalhas de ego dentro própria comunidade universitária. A pesquisa, aliada ao ensino e extensão, deve ser referência para o povo;
5 — A pós graduação não pode ser entendida como um processo superior de todas as outras atividades da universidade. Deve se inserir também no contexto social do Sul e Sudeste paraense;
6 — Assistência e integração estudantil equipara-se ao tripé ensino, extensão e pesquisa, e deve possibilitar discussões e políticas internas que ampliem o debate junto aos estudantes. A assistência estudantil, principalmente, não é uma ação meramente burocrática;
7 — Defesa das carreiras de servidores técnicos e docentes, incentivando e promovendo oportunidades para a qualificação do quadro de pessoal;
8 — A administração superior deve perceber que os objetivos da Unifesspa não se encerram em suas próprias salas. Por vezes existe a impressão que órgãos suplementares são mais importantes que Unidades Acadêmicas.
Redes Sociais